Colégios Militares são sensação na Olimpíada de Matemática
Desde o início da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), em sua sétima edição, mudam os nomes dos vencedores das medalhas de ouro, mas entre os melhores cérebros matemáticos da rede pública nacional sempre estão alunos de colégios militares. Na última edição da Olimpíada (2010), cujo resultado foi anunciado no fim de junho, estabelecimentos militares de ensino conquistaram 185 (37%) das 500 medalhas de ouro, recebidas das mãos da presidenta DIlma Rousseff, no Theatro Municipal do Rio. Dos dez primeiros colocados nos três níveis da OBMEP, 20 são de instituições militares, incluindo dois alunos da Escola Naval, no nível 3 (médio). Quase todos esses medalhistas são do Sistema Colégio Militar, do Exército, que conta com 12 escolas no País, além da Fundação Osório, no Rio, e 14.400 alunos no País, meninos e meninas, nos níveis fundamental (do 6º ao 9º anos) e médio.
Somadas a outras sete instituições militares vencedoras na OBMEP – como as escolas preparatórias das Forças Armadas e da Polícia Militar –, esses colégios representam apenas 0,00046% dos 40.377 estabelecimentos de ensino avaliados no país e ganharam quase 40% do total de medalhas. Competiram 19,5 milhões de estudantes da rede pública de ensino. Nas Olimpíadas de 2009 e 2008, o desempenho foi ainda melhor. Em 2009, 41% dos 300 ouros foram recebidas por colégios militares. No ano anterior, 39,3%. Dois dos seis representantes brasileiros na Olimpíada Mundial de Matemática, que acontecerá este mês na Holanda, serão de escolas do Exército: André Macieira, 16 anos, do Colégio Militar de Belo Horizonte, e Henrique Fiúza, 15, da unidade de Brasília – os dois primeiros colocados na OBMEP este ano e cinco vezes medalhistas na competição. Eles viajam quinta-feira para a Holanda e, desde o início do mês, estão passando por treinamento intensivo em São Paulo.
Na opinião de André, o segredo do sucesso das escolas militares está na seleção de alunos, nos bons professores e na “disciplina militar”. “A seleção difícil puxa todos os alunos para frente, os professores são altamente qualificados, e a disciplina ajuda a manter o padrão na sala de aula, não ter baderna, e isso faz também a pessoa ficar mais disciplinada”, opina o rapaz. De acordo com a assessoria de imprensa do Colégio Militar do Rio, o maior do sistema – 1.861 alunos – e que mais teve medalhistas de ouro este ano (34), a disciplina militar “se expande aos outros campos psico-afetivos, dentre eles o estudo das ciências exatas. Dessa forma, os alunos se dedicam com maior empenho, sentem-se e são motivados a obter esses resultados”. Para a diretora acadêmica e “mentora” da OBMEP, Suely Druck, a diferença dos colégios militares “é realmente o nível dos professores”. “São muito preparados, com mestrado e doutorado, bem remunerados, não precisam dar aulas em três ou quatro escolas e tem boas condições de trabalho.
Os militares têm disciplina severa e são extremamente competitivos, e os alunos são bons”, disse Suely, doutora em Matemática Pura e professora da UFF (Universidade Federal Fluminense). Os colégios militares e outras escolas federais com bom desempenho na OBMEP – como a rede Pedro II, com 30 ouros, e Colégios de Aplicação – são exemplos de que o País é capaz de dar bom ensino público, “embora não em grande escala”. De acordo com o chefe da Seção de Ensino da Depa (Diretoria de Ensino Preparatório e Assistencial) do Exército – que coordena nacionalmente o Sistema Colégio Militar –, tenente-coronel Freire, além do nível dos professores e alunos, o militarismo influencia o bom desempenho escolar.