Os professores Pasquale Cipro Neto, colunista da Folha, e Ernani
Pimentel estiveram nesta quarta-feira no Senado para pedir a suspensão
da reforma ortográfica, resultado de um acordo firmado em 1990 entre
todos os países de língua portuguesa. O acordo foi assinado pelos países que tinham o português como língua
oficial: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e
Príncipe, Timor Leste (que não era independente à época), Brasil e
Portugal. As mudanças trazidas pelo acordo --como a ausência de acento
na palavra "ideia"-- já são aplicadas aqui desde 2009, em período de
"acomodação" que deve durar até o final deste ano.
Para os professores, o conteúdo do acordo é de difícil aplicação por ser
"ilógico" e contraditório. Eles condenaram também a forma como o acordo
está sendo implantado no país e apontaram várias divergências entre as
novas regras e o que está disposto no VOLP (Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa), elaborado pela Academia Brasileira de Letras e usado
como referência para verificar a grafia das palavras. Os professores querem que a adoção obrigatória do acordo no Brasil --que
ocorre em janeiro do ano que vem-- seja suspensa. Dessa forma, haveria
mais tempo para discutir mudanças no conteúdo, inclusive com os outros
países signatários. "Como nós vamos costurar todo o imbróglio decorrente
da adoção estapafúrdia dessa reforma ortográfica?", questionou Cipro
Neto.
Os professores Pasquale Neto e Ernani Pimentel participam da sessão da Comissão de Educação do Senado Federal |
A não-adesão de países como Angola e Moçambique e a baixa aceitação de
Portugal, que só recentemente sancionou a lei que tornou o acordo
obrigatório no país, também foram citadas como problemas do acordo. Até
2015 os portugueses estarão em período de acomodação, mas segundo Cipro
Neto lá também existe a intenção de rever o texto.Pimentel, idealizador do movimento "Acordar Melhor" (que pede mudanças
no acordo) criticou duramente a ABL. "É a segunda vez que a academia é
convidada para esse debate e não comparece. Isso mostra um comportamento
adequado à época do autoritarismo, uma posição aristocrática. Eles não
vieram porque não têm argumentos para justificar esse acordo que está
aí", afirmou.Apenas no século 20, foram feitas nove reformas da língua portuguesa.
Cipro Neto afirmou que a audiência dessa quarta "foi um primeiro passo",
mas que uma eventual "reforma da reforma" não será fácil.
"Reforma ortográfica é como uma garrafa pet, leva muito tempo para ser
deglutida. É preciso ter muito cuidado quando se coloca em vigor uma
reforma, ela precisa ser muito bem feita para que não haja problemas
como esses que temos hoje", afirmou. A ABL, por meio da assessoria, informou que o feito pela comissão do
Senado era pessoal a Evanildo Cavalcante Bechara, tesoureiro da
academia. Como ele está em viagem, não pôde comparecer à audiência
pública. Quanto às divergências apontadas por Cipro Neto e Pimentel, a
assessoria da ABL informou que apenas Bechara poderia se pronunciar
sobre a questão
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