O que fazer quando seu filho não gosta do professor
Por Letícia Mori
A criança chega em casa chateada, jogando a mochila no chão e reclamando
da escola. Você ouve que o professor não gosta do seu filho ou que seu
filho não gosta do professor. A reação natural de qualquer pai é ficar
alarmado. Mas é preciso tentar manter a calma. A forma como você lida
com a situação pode tornar as coisas muito melhores ou muito piores.
Procurar uma resolução pacífica garante o melhor resultado para a vida
escolar do seu filho, já que uma boa relação entre o aluno e o professor
é um dos fatores que mais influenciam na aprendizagem, segundo a
psicóloga e pedagoga Neide Saisi, da PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo). Tanto adultos quanto adolescentes e
crianças só aceitam que outra pessoa os ensine quando existe uma relação
de confiança. "A pessoa só aprende com aqueles a quem ela delegou o
direito de ensinar. E ela só dá esse direito a quem ela confia. É um
processo inconsciente", explica a pedagoga.
E para estabelecer essa
confiança, primeiro é preciso criar um laço afetivo. A relação de afeto é
fundamental principalmente nos primeiros anos de escola. Se a
convivência com o professor é ruim, o aluno começa a rejeitar o processo
de aprendizagem e se torna indócil e desinteressado. Por extensão, ele
deixa de gostar da escola. "Ela deixa de ser um fato de desenvolvimento e
aprendizado e passa ser um local de punição", diz Saisi. Seu
filho tem dificuldades nos estudos, notas baixas ou simplesmente tem
mostrado o desejo de não ir para a escola? Vale a pena perguntar como
anda o relacionamento dele com os professores. Nem sempre crianças e
adolescentes deixam claro como é essa relação e os pais acabam não
percebendo que esse é um dos fatores do problema. A boa notícia
é que na maioria das vezes é possível resolver o conflito por meio do
diálogo.
"Basta os dois lados estarem abertos", diz a psicóloga Sueli
Conte, autora do livro "Bastidores de uma Escola" (Editora Gente) e
atual diretora do Colégio Renovação, em São Paulo. Segundo ela, o
primeiro passo é descobrir qual a origem da desavença, que pode ser
resultado tanto do comportamento da criança ou até mesmo do docente. "O
professor é um ser humano, ele também erra", explica Neide Saisi.
Classes lotadas, estresse, problemas emocionais... Tudo isso pode levar o
educador a ter atitudes inadequadas. "Mas normalmente ele é bem
intencionado e está disposto a se corrigir se perceber se agiu de forma
injusta", afirma Sueli Conte. As especialistas dão quinze dicas
para você resolver o problema do seu filho com o professor da melhor
forma possível e garantir que a experiência dele na escola seja
prazerosa e educativa.
1) Não assuma imediatamente a posição negativa da criança
Todo mundo pode se enganar ao julgar o caráter dos outros. Crianças e
adolescentes estão ainda mais sujeitos a se deixarem levar pelas
emoções. "Eles podem interpretar a atitude do professor de forma
errada", diz a psicóloga Sueli Conte. Antes de achar que o educador é um
carrasco, ao menos leve em conta essa possibilidade. Acalme seu filho e
peça para ele explicar melhor a situação.
2) Ouça bem e fique atento aos detalhes
Se seu filho fizer afirmações genéricas como "minha professora é má",
tente entender o que exatamente ele quer dizer com isso. Descubra o
maior número de detalhes sobre a situação que o levou a pensar desse
jeito. Será que a professora o humilhou na frente da classe ou apenas
exigiu que ele fizesse o exercício? Segundo a psicóloga Sueli Conte,
autora do livro "Bastidores de uma escola", é importante perguntar de
maneira casual para que a criança não seja levada a exagerar a situação.
Assim você pode julgar com clareza se a atitude foi realmente
inadequada ou se a criança interpretou de maneira incorreta uma
exigência razoável.
3) Encontre a orígem do problema
Muitas vezes o aluno cria rancor do professor simplesmente porque não
consegue entender o que ele está explicando. "Para existir afeto entre
os dois, o mestre precisa respeitar o nível de desenvolvimento do aluno e
sua personalidade", explica a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP.
Alunos tímidos, por exemplo, podem acabar recebendo menos atenção e
sentirem-se rejeitados. Tente entender qual a origem do conflito para
estar preparado quando for conversar com o professor e com a escola.
4) Confirme se o desgosto é com o educador ou com a matéria
Se o aluno tem alguma defasagem de ensino ou dificuldade natural com uma
disciplina específica, pode transferir o sentimento negativo para quem
ministra a matéria. "Se não gosta do assunto, a criança ou adolescente
também tende a ser mais indisciplinado, e consequentemente, mais
repreendido", diz a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP. Nesse caso,
explique a importância de aprender aquela disciplina, tente ajudá-lo com
as tarefas e converse com a escola para que ele receba reforço. Aulas
particulares também podem ajudar.
5) Avalie o comportamento de seu filho
Pode ser que ele não seja indisciplinado em casa, mas tenda a
ultrapassar os limites na escola. Nem sempre as crianças se comportam da
mesma forma nos dois ambientes. "Se a criança tem atitudes rebeldes e
desafiadoras na sala de aula, a família tem de tentar resolver essa
questão em casa", diz a psicóloga Sueli Conte, autora do livro
"Bastidores de uma Escola" (Editora Gente). Mas não pergunte se ele fez
algo de errado, isso pode parecer uma acusação. Peça a ele para pensar
em quais atitudes poderiam estar deixando o professor bravo e ajude-o
modificar esse comportamento.
6) Procure causas externas
Desavenças familiares, brigas com colegas e até problemas de saúde podem
levar as crianças e se tornarem agressivas na escola, segundo a
psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP. "É importante resolver fora da
sala de aula tudo o que possa levar o aluno a descontar suas
frustrações nesse ambiente e acabar entrando em conflito com o
professor", diz ela.
7) Não faça acusações
A relação com a criança é um problema a ser resolvido, não uma briga a
ser ganha. Deixe claro para o professor que não está fazendo acusações,
apenas mostrando como seu filho se sente e tentando entender o porquê.
"A conversa com o professor pode ser muito rica se os pais estiverem
abertos ao diálogo", afirma Sueli Conte, psicóloga e diretora do Colégio
Renovação, em SP. "Mas se eles chegarem brigando, exaltados, podem
piorar uma situação que seria simples de resolver".
8) Esteja disposto a ouvir mais do que falar
A ideia da conversa é compreender o que está fazendo seu filho sentir
que o professor não gosta dele e vice-versa. "Muitas vezes o professor
nem sabe que existe um problema", afirma a psicopedagoga Neide Saisi, da
PUC-SP. Explique, diga que está preocupado com a situação e peça para o
docente contar seu ponto de vista. Assim vocês podem pensar em conjunto
qual a melhor solução para todos.
9) Compartilhe informações que ajude o professor a entender seu filho
Se a criança acabou de perder alguém da família ou teve uma experiência
traumática na escola, é natural que deixe de fazer as tarefas, fique
triste etc. Explique que não quer justificar a falta de disciplina.
Segundo a psicopedagoga Neide Saisi, da PUC-SP, passar para o professor
informações sobre o passado do seu filho ajuda o educador a entender a
atitude do aluno em relação ao aprendizado e adaptar a forma como se
relaciona com ele.
10) Participe ativamente da educação de seu filho
A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo aconselha os pais a
participar de reuniões de pais e mestres e outras solicitadas pela
escola, acompanhar as provas e tarefas dos filhos e verificar o
desempenho da criança através dos seus cadernos. "A presença dos pais na
educação escolar de seus filhos constitui requisito fundamental para a
aprendizagem do aluno", afirma a secretaria em nota. Essa é também a
opinião da psicóloga e diretora do Colégio Renovação, Sueli Conte.
"Entrar sempre em contato com a escola, não apenas quando há um
problema, ajuda a criar confiança tanto dos pais em relação à escola
quanto da escola em relação aos pais. Assim fica mais fácil resolver
problemas quando eles aparecem", diz ela.
11) Não critique o professor na frente do aluno
Por mais crítico que o problema pareça, não fale mal do docente para a
criança ou na frente dela. É o que aconselha a psicóloga Sueli Conte,
autora do livro "Bastidores de uma Escola" (Editora Gente). Segundo ela,
isso só vai aumentar a raiva do seu filho, torná-lo menos aberto a
trabalhar para que o relacionamento melhore e reforçar a ideia de que o
professor é um "vilão". Isso pode se estender para uma visão negativa de
professores em geral e comprometer sua aprendizagem para o resto da
vida escolar.
12) Não prometa uma solução instantânea
Diga para seu filho que se importa com o que está acontecendo e vai
fazer de tudo para que a situação melhore. Mas explique que você não vai
simplesmente ir até a escola e acabar com o problema. "O aluno não pode
achar que é só o pai aparecer, brigar com a escola e vai ficar tudo
bem. Nessas situações, é preciso a colaboração de todos: da família, da
escola, do professor e da criança também", diz Sueli Conte. Por isso os
pais devem mostrar que é preciso trabalhar em conjunto e que pode levar
algum tempo até que as coisas se acertem.
13) Explique para seu filho a importância de aprender a matéria mesmo não gostando do professor
Ajude a criança ou o adolescente a entender que todas as disciplinas
escolares são importantes para o seu desenvolvimento. Elas vão ser úteis
em algum momento e é essencial que ele aprenda. Durante a vida vai
haver diversas situações nas quais ele terá que trabalhar com alguém por
quem não sente simpatia. "Às vezes o problema do aluno pelo professor é
só uma questão de personalidade, de empatia. Principalmente entre
alunos mais velhos", explica Sueli Conte, psicóloga e autora do livro
"Bastidores de uma Escola" (Editora Gente). Se o aluno não for muito
pequeno e se o conflito não for grave, o ano em que estudar com aquele
professor pode ser uma oportunidade para seu filho aprender a lidar com
diferenças de personalidade.
14) Forme um grupo com outros pais
Procure os pais de outros alunos para verificar se o problema se repete
com eles. "Se várias pessoas estão reclamando do mesmo professor, então
não é um problema pontual", afirma a psicopedagoga Neide Saisi. Se
vários pais já tentaram resolver a situação sem sucesso, pode ser o caso
de vocês formarem um grupo e entrarem em contato com a escola em
conjunto.
15) Procure a escola e outras instâncias de ensino
Se você constatar que o professor realmente está agindo de maneira
inadequada, procure o coordenador pedagógico ou o diretor da escola. No
Estado de São Paulo, a rede pública também conta com o
Professor-Mediador Escolar e Comunitário que auxilia nesse tipo de caso.
"Às vezes o problema é realmente o professor. Acontece. Nesse caso a
escola tem que tomar providências", afirma a psicopedagoga Neide Saisi.
Se mesmo assim o problema persistir, e você não puder ou não conseguir
mudar se filho de escola, a Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo informa que é possível pedir a intervenção de instâncias
superiores de ensino por meio de um processo formal. Procure a
Secretaria de Educação do seu estado para saber quais são os
procedimentos na sua região do país.
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