Por Lucy Casolari (*)
Brincar é uma forma de descobrir o mundo, organizar as emoções, iniciar os primeiros relacionamentos. Por meio da brincadeira a criança processa as informações e experiências do dia-a-dia, desenvolve a coragem para arriscar, a iniciativa e a autonomia para agir. Aprender brincando é uma grande verdade, sobretudo quando se fala de criança, por isso costuma-se dizer que brincadeira é coisa séria.esse ponto os estudos de especialistas convergem. Na opinião da educadora Fanny Abramovich a criança se desenvolve ao "entender tantas coisas através do brincar, ... se entender através de tantas maneiras de brincar". Ao mesmo tempo, se diverte e assimila conceitos, envolve-se em uma realidade própria e acrescenta ação e sentimento aos objetos. Desse modo, um pedaço de madeira ou um carrinho podem, na brincadeira, andar, dormir, comer, sorrir ou chorar.
Brincar é tão importante que faz parte da Declaração dos Direitos da Criança, ao lado do atendimento das necessidades básicas de alimentação, saúde, habitação e educação. Assim, o espaço lúdico, representado por jogos e brincadeiras, precisa ser garantido pelas famílias, escolas e autoridades públicas. Nas ultimas décadas a infância, assim como toda a sociedade, passou por grandes transformações. Os avanços tecnológicos em ritmo acelerado, a redução do número de filhos por família e o ingresso no mercado de trabalho da grande maioria das mães deram à infância uma outra cara. As crianças, atualmente, crescem mais solitárias e individualistas e vão para a escola mais cedo. O tempo livre é, em grande parte, utilizado na frente da televisão, absorvendo, passivamente, informações de um mundo adulto muito além do seu universo.
Para tirar os filhos da frente da telinha, TV ou computador, os pais procuram proporcionar atividades extracurriculares, sobrecarregando a agenda dos pequenos. Além disso, expectativas e cobranças em relação a eles são altas, pois afinal, como será o mercado de trabalho daqui a alguns anos? As escolas, por sua vez, valorizam o trabalho acadêmico de conteúdos, atendendo às ansiedades e exigências das famílias.Como se vê, tudo no mundo atual está contribuindo para que as crianças não desenvolvam o hábito de brincar. Entretanto, é preciso proporcionar tempo livre para que a criança possa, como Narizinho de Monteiro Lobato, se exercitar em não pensar, sonhar, devanear... é isso que traz, de fato, a alegria de viver. Se você deseja que seus filhos cresçam felizes, lembre-se de que brincar precisa ser prioridade!
Diante disso tudo, fica clara a necessidade de espaço onde a criança possa brincar espontaneamente, sem pressão de tempo nem cobranças. A solução seria, então, abrir toda a sua casa, o tempo todo, para não tolher as atividades lúdicas? Claro que não, pois brincar é descobrir o mundo e organizar as emoções mas, também, desenvolver a inteligência, a criatividade, a autonomia, a sociabilidade. Mais razoável, portanto, é dimensionar e equilibrar o espaço da brincadeira de forma que toda a família possa usufruir a casa. Afinal não é nada agradável tropeçar, a toda hora, em carrinhos ou disputar o sofá com bonecas ou bichinhos de pelúcia.
Uma possibilidade pode ser a organização de uma brinquedoteca doméstica, no quarto das crianças, no quintal, na área de serviço ou até num canto da sala, se não houver alternativa. Dependendo do espaço de que você dispõe, poderá incrementar mais ou menos. De todo modo, lembre-se de que os brinquedos devem estar acessíveis para a criança, pois em estantes altas transformam-se em enfeites. Utilize caixas coloridas de plástico para separá-los e ensine seu filhote a guardá-los nos seus respectivos lugares ao final da brincadeira. É claro que será preciso insistir muitas vezes até transformar a arrumação em hábito. Procure fazer junto ? o que não significa fazer por ele - até que tenha a autonomia para dar conta do recado. Ainda que a criança seja pequena é importante que, dentro de suas possibilidades, participe da organização, pois assim estará aos poucos assumindo e incorporando regras básicas de convivência e tornando-se responsável.
(*) Pedagoga e educadora
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