Saiba se o peso de sua mochila está correto
Especialistas recomendam que estudantes carreguem até 10% do peso corporal para não terem problemas de postura
Livros, cadernos, pastas, lanche. Só com itens básicos, a mochila do estudante já adquire um bom peso. Somada a outros materiais como objetos eletrônicos, brinquedos e roupas, o peso pode ultrapassar o recomendado por fisioterapeutas e ortopedistas e se tornar um potencial problema de postura e até de coordenação motora. Segundo especialistas, o ideal é que os estudantes (crianças e adolescentes) carreguem até 10% do próprio peso. “A mochila deve ter duas alças, estar acima da linha da cintura e ser levada sempre nas costas”, alerta Luiz Eduardo Carelli, especialista do Centro de Tratamento das Doenças da Coluna do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into). Nesta semana, antes de voltar às aulas, teste se você vai carregar muito peso.
Na maioria dos Estados, como São Paulo e no Distrito Federal, os alunos da rede estadual retornam às escolas na quarta-feira, dia 1. Em outros locais, como no Rio de Janeiro, a folga vai até o dia 6. Colégios privados voltam a partir de segunda, dia 30, com calendários próprios. Postura correta na infância significa menos problemas na vida adulta, avisa a fisioterapeuta e professora Susi Fernandes. “É importante apresentar medidas de educação postural para as crianças para evitar que elas se transformem em adultos problemáticos”, destaca a autora da tese de mestrado “Os efeitos da orientação postural na utilização de mochilas escolares em estudantes do ensino fundamental”, defendida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Por ser o eixo de sustentação do nosso corpo, a coluna também é responsável pelos movimentos psicomotores, como a escrita e a coordenação motora, essenciais na fase da alfabetização. Susi conta que muitas crianças sentem dores nas costas, ombros e braços, causadas pela postura incorreta. “Se o eixo estiver desalinhado, haverá sobrecarga nos braços”, ressalta a professora de fisioterapia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Na educação infantil e no ensino fundamental I (1º ao 5º ano) é mais fácil controlar o peso da mochila. Pais e professores estão atentos e fiscalizam o que as crianças carregam. Depois fica mais difícil, pois pré-adolescentes e adolescentes não permitem tanta vigilância. “É nesta fase que os problemas posturais ficam mais sérios”, aponta Susi.
Carelli recomenda arrumar a mochila diariamente e evitar carregar peso sem necessidade, como cadernos de dez matérias e fichários que não serão usados totalmente todos os dias. “Pais, escola e aluno devem ser responsáveis pelo peso correto da mochila. A escola orienta, os estudantes devem cumprir e não devem acrescentar itens que deixem a mochila pesada. Por fim, cabe aos pais fiscalizar”, completa.
Nos Estados de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul e nas capitais São Paulo e no Rio de Janeiro há leis que determinam que os estudantes não carreguem muito peso. A lei paulista limita o estudante a carregar até 10% de seu peso corporal. A carioca estipula um peso máximo de acordo com a idade do aluno. Em Minas, a legislação determina a proporção máxima de 5% de carga em relação ao peso total do estudante com até 10 anos. A proporção sobe para 10% quando a criança tem mais de 10 anos. No Rio Grande do Sul, o limite é de 5% do peso do aluno da educação infantil e de 10% do peso do aluno do ensino fundamental.
Mas se há recomendações e regras, por que crianças continuam a carregar mochilas pesadas? A fisioterapeuta Susi Fernandes levanta algumas hipóteses. A primeira delas está relacionada ao material carregado a mais, que não faz parte da vida escolar, mas é levado pelo estudante, como equipamentos eletrônicos, brinquedos e roupas. O peso da própria mochila, que sozinha pode chegar a cinco quilos também deve ser considerado. E o armário na escola, apontado como uma boa solução para evitar a sobrecarga, pode ser um vilão se alunos e professores não se organizarem. “De que adianta ter armário se o aluno precisa levar material para casa para estudar?”, questiona.
Para compreender o que professores sabem e pensam, a fisioterapeuta pesquisou o assunto. Entre as conclusões são que os mestres têm conhecimentos satisfatórios sobre a questão postural, mas baseados em empirismo, na experiência própria de vida. Sem preparo, não levam em conta a questão peso na hora de escolher o material didático, por exemplo. E a escola também não organiza o horário de forma mais sensata, que proporcione aos estudantes a possibilidade de carregar menos peso.
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