Metas educacionais voltam a apoiar classes só para deficientes
O Plano Nacional de Educação (PNE) ganhou metas diferentes das
propostas pelo Ministério da Educação no Congresso Nacional. Se o texto for aprovado como está,
as classes exclusivas para estudantes deficientes voltarão a receber
estímulo. A definição contraria as políticas mais recentes do
ministério, que defende a inclusão desses alunos em escolas
convencionais.
A mudança na redação original do PNE, proposta pelo relator do projeto
na Câmara dos Deputados, Ângelo Vanhoni (PT-PR), causou polêmica entre
especialistas na última semana. E representou alívio para muitas
famílias e representantes de entidades que cuidam de espaços de
atendimento específico para deficientes.
Para o MEC, as crianças com deficiências ou transtornos globais de
desenvolvimento devem estudar em escolas públicas convencionais. Os
colégios têm de se adequar às necessidades dos alunos e dar a eles a
chance de conviver com pessoas sem deficiência. A inclusão, na opinião dos gestores e corroborada por muitos especialistas, promove o fim do preconceito e crescimento dos estudantes. O texto apresentado por Vanhoni aos parlamentares, que votarão a
proposta no dia 12 de junho, abre possibilidades diferentes.
Define, na
meta 4, que será objetivo do País atender esses alunos, de preferência,
na rede regular de ensino. Porém, “garantindo o atendimento educacional
especializado em classes, escolas ou serviços especializados, públicos
ou comunitários, sempre que, em função das condições específicas dos
alunos, não for possível sua integração nas classes comuns”. Na opinião do deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), que faz parte do
movimento das Apaes há 30 anos, o relatório, agora, “contempla o anseio
da sociedade”. Para ele, a decisão “muito técnica” do MEC foi superada
por uma “decisão política de governo”.
“Somos a favor da coexistência dos dois tipos de escola para a
ampliação das oportunidades educacionais para muitas crianças que não
recebem atendimento adequado em escolas regulares”, comenta Sandra
Marinho Costa, secretária-executiva e procuradora jurídica da Federação
Nacional das Apaes (Fenapaes), entidade que atende pessoas excepcionais. Sandra conta que 250 mil pessoas são atendidas pelas Apaes em todo o
Brasil. Muitas delas, ela diz, tentaram se manter em escolas
convencionais, mas não tiveram sucesso. “Fazer matrícula e ir para a
escola é uma coisa. Estar incluído é outra bem diferente. Há pessoas com
comprometimentos tão sérios que não conseguem receber atenção adequada e
terminam isoladas nesses ambientes”, diz.
A representante de uma das associações que mais trabalhou, nos
bastidores, para convencer o deputado Vanhoni de que a mudança na meta
de número 4 do PNE era importante garante que a defesa das Apaes é por
um sistema inclusivo de educação. Segundo Sandra, as famílias têm de ter
opções. “E há crianças que, após um atendimento especializado, são
plenamente capazes de frequentar escolas regulares e aprender. Outras
não”, ressalta. Sabine Antonialli Arena Vergamini, diretora de Unidade
Socioeducacional do Centro de Educação para Surdos Rio Branco, em São
Paulo, também critica a ideia de que as escolas regulares fazem
inclusão.
“Divisão do espaço físico não significa incluir. Para 99% dos
surdos, uma escola só deles é muito melhor”,
afirma. Na escola que coordena, Sabine conta que as crianças são
alfabetizadas, primeiro, na Língua Brasileira de Sinais (Libras). A
língua portuguesa é ensinada como uma segunda língua. As famílias são
incluídas no processo. Mantida pela Fundação Rotariana de São Paulo, a escola só atendia
crianças carentes até bem pouco tempo. Por conta da demanda, eles
decidiram abrir algumas vagas para famílias que podem pagar uma
mensalidade: um aluno por cada classe. As turmas têm, no máximo, 10
crianças e as atividades ocorrem em período integral.
Comento: Uma escola que se diz preparada para a inclusão de crianças especiais deve estar preparada em termos de estrutura física e recursos humanos. Qualquer coisa diferente disso é proselitismo e hipocrisia barata. Vejo a discussão do assunto como algo proveitoso para a sociedade, visto que o tema havia sido unilateralmente inserido na agenda da educação básica. E educadores que somos sabemos que a teoria passa longe da prática. Uma luz no final do túnel.
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