A interdisciplinaridade na escola
O trabalho com a interdisciplinaridade na escola começa já nas séries iniciais
do Ensino Fundamental. A imensa maioria das propostas curriculares que orienta
o trabalho pedagógico dos professores de educação básica tem nas disciplinas
acadêmicas tradicionais sua principal fonte de conteúdos e de organização
dos conhecimentos. As crianças, já nas primeiras séries do fundamental, têm aulas de Matemática,
Ciências, História, Artes e assim por diante. Mesmo que todas essas aulas
sejam dadas pela mesma professora, cada uma tem seus momentos e formas de
funcionamento próprios, além de conteúdos muito bem caracterizados. Essas experiências escolares ensinam aos alunos, desde pequenos, que o conhecimento
encontra-se organizado em compartimentos que, geralmente, não se relacionam.
Na aula de Matemática fazemos contas, na aula de Língua Portuguesa lemos e
escrevemos, na aula de História aprendemos a data dos principais fatos históricos
e assim por diante.
Sendo assim, os(as) professores(as) devem se preocupar, já nas séries iniciais
do Ensino Fundamental, em incentivar os alunos a construírem relações entre
os diferentes conteúdos presentes nas diversas disciplinas do currículo. Conversar
com os alunos de forma que percebam que a ciência também tem uma história,
assim como o país, o estado, ou a comunidade. Mostrar que os problemas ambientais
são, ao mesmo tempo, problemas de saúde, de Química e de Física, além de envolverem
a ecologia e a Biologia como um todo.Atualmente, a estratégia de ensino mais utilizada para o desenvolvimento
de um trabalho pedagógico interdisciplinar são os projetos didáticos. Por
meio dos projetos os professores podem introduzir o estudo de temas que não
pertencem a uma disciplina específica, mas que envolvem duas ou mais delas.
Os projetos didáticos são feitos com o propósito de construir boas situações
de aprendizagem, nas quais se evite compartimentalizar o conhecimento, e dar
aos alunos um sentido ao esforço de aprender.
Os projetos didáticos podem envolver várias disciplinas, porém, isso não
deve ser obrigatório. Projetos didáticos são importantes porque abrem novas
possibilidades de aprendizagem aos estudantes: viver situações em que é necessário
tomar uma decisão sobre que caminho seguir; aprender a fazer um cronograma,
considerando uma meta e as condições iniciais para realizar o projeto; decidir
que estudos realizar para resolver um problema; compreender um processo de
transformação ou uma questão política; predispor-se a analisar uma situação
social complexa e situar quais disciplinas fornecem conhecimentos para esclarecê-la. É preciso ressaltar que a avaliação de um projeto didático deve levar em
conta, principalmente, as aprendizagens realizadas pelos alunos durante sua
realização. Um projeto é bom pelas aprendizagens que proporciona a seus alunos,
não pela qualidade pontual de seu produto final. Fazer uma apresentação considerada
linda pelos pais pode ser até importante para as relações da escola com eles,
mas não garante a realização das aprendizagens que justificaram o projeto,
quando de seu planejamento.
Em um projeto didático interdisciplinar, cada professor que participa precisa
ter definidos seus objetivos educativos, próprios da disciplina ou área com
a qual trabalha. No caso das séries iniciais do Ensino Fundamental, uma professora,
desenvolvendo um projeto didático com seus alunos, define objetivos em Língua
Portuguesa, em História e em Geografia. Por exemplo: realizar um projeto no qual os alunos aprimoram seus conhecimentos sobre
características do texto informativo e desenvolvem sua competência em produzi-lo; pesquisar sobre a história da Grécia Antiga; propiciar a utilização de Atlas, estudando em particular o Mar Mediterrâneo,
sua localização entre a África e a Europa, Gibraltar e o Oriente Médio; os
países que banha, a presença da Grécia e do Mar Egeu. Esses objetivos podem também fazer parte de um projeto envolvendo quintas
ou sextas séries do Ensino Fundamental e tendo a participação dos professores
de Língua Portuguesa, História e Geografia.
Os projetos didáticos propiciam, enfim, o estudo de problemas reais e, por
isso, complexos, o que implica a necessidade de uma abordagem interdisciplinar.
Uma forma de abordar esses problemas reais é por meio dos temas transversais.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os temas transversais são definidos
como questões de relevância social e que não devem ser abordadas ou resolvidas
a partir de uma única disciplina. Ou seja, para compreender e procurar soluções
para os problemas abordados nos temas transversais é preciso que se faça uma
abordagem interdisciplinar, caso contrário, corre-se o risco da simplificação
excessiva. "O compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente uma prática
educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos
e responsabilidades em relação à vida pessoal e coletiva e a afirmação do
princípio da participação política. Nessa perspectiva é que foram incorporadas
como Temas Transversais as questões da Ética, da Pluralidade Cultural, do
Meio Ambiente, da Saúde, da Orientação Sexual e do Trabalho e Consumo."
"A metadisciplinaridade, como dissemos, não implica nenhuma relação entre
disciplinas. Ela se refere ao ponto de vista ou à perspectiva sobre qualquer
situação ou objeto, mas não é condicionada por apriorismos disciplinares.
Na escola, deveríamos entendê-la como a ação de se aproximar dos objetos de
estudo a partir de uma ótica global que tenta reconhecer sua essência e na
qual as disciplinas não são o ponto de partida, mas sim o meio de que dispomos
para conhecer uma realidade que é global ou holística. De alguma maneira,
situam-se nessa visão os denominado eixos ou temas transversais". Alunos de 3ª ou 4ª série podem ser desafiados a pesquisar quanta água a escola
está gastando e pensar se essa quantidade está de acordo com as orientações
dadas pelas companhias de tratamento e distribuição de água.
Nesse trabalho,
além de estudar a questão da obtenção, produção e distribuição de água potável
para a cidade, os alunos aprendem também a fazer e utilizar as médias aritméticas
em Matemática. A presença desse conteúdo está relacionada ao fato de que é
muito comum, nessas discussões, o uso do "consumo médio" e do "consumo médio
per capita". Também incluem-se neste caso os temas transversais saúde e meio
ambiente. Em Ciências Naturais, professoras e professores devem sempre estar atentos
para evitar a compartimentalização do conhecimento. Por exemplo, quando o
tema é corpo humano, é comum estudarmos com as crianças os sistemas orgânicos
de forma isolada, levando a um ensino que separa respiração de digestão e
de circulação, e que impede os alunos de relacionarem o que estão aprendendo
com uma boa postura em relação à sua própria saúde.
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