Escolas adotam estratégias diversas para ensinar sustentabilidade
Mede, lixa, enverniza, fura. A última reunião do Núcleo do Pensamento
Sustentável da escola Santi, em São Paulo, parecia aula de carpintaria.
Depois de estudar por meses quais descartes causavam os maiores danos e
debater como reduzi-los, o grupo se empenhava na construção de um
canecário e uma composteira. A atividade faz parte da estratégia do
colégio para desenvolver consciência ecológica nas crianças a partir da
prática. O suporte para canecas será colocado na sala dos professores, embora
estes ainda não estivessem avisados do projeto até a terça-feira quando o
equipamento começou a ser construído. “Não teremos mais copos
plásticos”, avisava uma folha de papel colorida caprichosamente pelo
grupo e colada ao lado do bebedouro.
A aceitação não foi unânime entre os mestres. “Cada dia vou por um para
lavar as canecas”, ameaçou um dos professores. Mas logo veio um pouco de
reflexão e a aceitação. “No Japão, o professor ganha a caneca junto com
o kit de trabalho no primeiro dia de aula e precisa cuidar até o
último”, comentou uma das docentes. “Eu não gosto muito de lavar minha
caneca, mas vou fazer isso pelo Planeta e por vocês que estão se
empenhando tanto”, disse a outra a aluna que afixava o cartaz. Para os alunos, a razão era fundamentada em dados. Eles mediram um
uso mensal de 5 mil copos d’água e 7,5 mil de café em toda a escola e a
sala dos professores estava entre os pontos mais consumistas. “Além de
gerar uma quantidade enorme de um material que não se desfaz, o plástico
com produtos quentes libera uma substância que faz mal a saúde”,
comenta Matheus Garcia, 12 anos.
Todos os estudos foram feitos em reuniões semanais de uma hora e meia
para pensar a sustentabilidade da escola. Os encontros são fora do
horário de aula, não valem nota e a adesão é voluntária. O professor de
Ciências, Edward Zvingila, supervisiona e fomenta o debate. Também está em construção uma composteira para o lixo orgânico.
Manoela Gonçalves Robeiro, 12 anos, e Isabel Stellino Ahmar, 11 anos,
foram as responsáveis por pesquisar o equipamento. “Vão ser três caixas,
duas para depósito do lixo, cada uma de uma vez, e a última para o
humos, que ele vai gerar e a gente pode usar de adubo”, diz íntima da
solução. O professor, orgulhoso da turma, aposta que as mudanças vão ter
resultado mais efetivos do que se fossem propostas pela escola. “Os
alunos chegaram à conclusão de que era preciso e possível fazer isso,
agora eles mesmos cobrarão os demais a fazerem”, afirma.
Simulação da Rio+20
No Colégio Magister, na zona sul de São Paulo, a estratégia é debater
o quadro global. O tema ambiental será explorado com discussões no
próximo mês. Durante os dias 20 e 22 de junho, todos os alunos do 9º ano
do ensino fundamental e das três séries do ensino médio irão simular a
conferência ambiental Rio+20, que acontecerá oficialmente na capital
carioca. Cerca de 200 estudantes serão divididos em comitês de discussão de
quatro problemas críticos – emprego, energia, alimentação e água – e
representarão diferentes países. Outra parte fará a cobertura
jornalística do evento. Desde já, os temas estão sendo trabalhados em
sala de aula e pesquisados pelos alunos. O objetivo é estimular
competências e habilidades como trabalho em equipe, liderança,
argumentação e colocar os jovens para pensar soluções inovadoras para os
problemas ambientais globais.
Larissa Santos, 17 anos, aluna do 3º ano do ensino médio e
coordenadora geral do grêmio estudantil, avalia que discussões como esta
que o colégio irá fazer e a conscientização dos cidadãos são avanços
que o evento traz. “Sabemos que o debate da Rio+20 não está longe e que
seremos afetados de maneira direta pelas decisões que forem tomadas lá.
Espero que as mudanças aconteçam não só de cima pra baixo, mas que
sejamosos agentes dessa transformação. Acredito muito na nossa geração”,
declara a jovem. O colega Leonardo Alves de Melo, 17 anos, destaca que a simulação
permite vivenciar a história na prática. “A gente aprende as relações
internacionais e os temas como se fosse um diplomata de um país”,
destaca. Para o professor de Atualidades e Língua e Cultura Hispânica do
colégio, Pablo Reimers, a simulação permite que estudantes aprendam ao
ensinar uns aos outros. “A partir do entendimento crítico, eles terão um
posicionamento para transformar aquilo que será a história deles no
futuro, e a nossa também.”
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