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7 de janeiro de 2010

Mérito educacional - uma visão ajuizada do tapetão vigente

Aprovação escolar sem mérito


Por Içami Tiba (*)

O que mais fere um professor digno é ter que aprovar um aluno que não mereça. Mas por que o professor tem que aprovar aluno não merecedor?

Porque o professor é pressionado pelos governos, donos da escola, diretoria/supervisor de ensino/coordenador de área, pais do aluno não merecedor, insultuoso excesso de trabalho, aviltante salário, falta de condições adequadas de atualização do processo ensino/aprendizagem, mercantilização do ensino, falta de respeito/reconhecimento e abuso dos alunos, destruição do sonho ao abraçar a carreira de professor, que maltratam sua alma pela destruição de sua auto-estima.

Professores do ensino público foram guilhotinados nas suas funções de ensino/aprendizagem quando se viram obrigados a aprovar todos os estudantes por uma lei que proibia a reprovação a não ser pelas faltas às aulas. Esta lei ficou conhecida como "aprovação automática". Aprender ou não deixou de ser significativo e o aluno era simplesmente aprovado. Os "beneficiados" por esta lei estão constatando pela sua vida prática o quanto foram prejudicados, pois o mercado de trabalho não emprega quem não tem competência, que é o que os alunos deixaram de adquirir ao não aprender o necessário para merecer um diploma. São formados até pelo ensino médio, mas são analfabetos funcionais.

Muitos donos de escola autodenominam-se como mantenedores. Pelo Houaiss, mantenedor é aquele que mantém, sustenta, defende, protege e vem da palavra espanhola mantener, que significa "manter, prover de alimento". Hoje, muitos mantenedores têm suas escolas como fontes de renda. Mensalidades pagas pelos alunos mantêm e 'alimentam' a escola. Uma escola privada que não gere renda torna-se financeiramente inviável e é fechada ou vendida. Os alunos como clientes de lojas "sempre têm razão". Basta reclamarem ou brigarem com um professor para ameaçarem procurar outra escola. O docente, num episódio como esse, pode ser advertido, punido ou até mesmo despedido pelo mantenedor. Esquecem-se os mantenedores escolares que os alunos geralmente estão pouco interessados em aprender e muito menos em estudar e querem ser aprovados. A maioria dos professores acaba sendo atropelada pelos interesses financeiros dos mantenedores. Os verdadeiros mantenedores são empresas, ONGs, instituições beneficentes que realmente sustentam escolas cujos alunos nada ou pouco pagam para estudar e aprender.

Quando surgem conflitos entre professores e alunos, a maioria dos diretores, supervisores e coordenadores de ensino acaba atendendo mais aos interesses dos alunos que ao currículo programático e os interesses pedagógicos. Eles temem pais querelantes que ameaçam denunciar e até processar a escola e seus funcionários para superproteger, mesmo que indevidamente, os seus filhinhos, verdadeiros príncipes herdeiros. As maiores vítimas das agressões nas escolas são os professores, o elo mais frágil da educação, quando deveria ser o mais forte, pois eles representam a escola na educação. 20% das agressões aos professores vêm diretamente dos pais.

Pais que vêm questionar por que o seu inocente filho está sendo perseguido por algum professor desalmado ou implorar para que o seu esforçado filho não repita de ano por causa de um único pontinho na nota. Esses pais estão financiando o despreparo e a má formação do seu filho quando assim o fazem. Professores são representantes sociais que os alunos têm que aprender a respeitar. Os filhos não podem cuspir no prato que comem e os alunos não podem maltratar os professores que os capacitam para a vida.

Quais foram os sonhos e as pretensões que alimentaram os professores quando jovens, para que eles resolvessem abraçar o magistério? Na sua etimologia, o Houaiss traz: lat. magisterìum,ìi 'dignidade, ofício de chefe; meio de curar, tratamento'. Mas a prática e os sistemas de educação no Brasil tiraram do docente a sua alma generosa, digna e necessária à formação dos futuros cidadãos, e colocaram no lugar a falta do reconhecimento, a impotência, a pobreza, a dificuldade e/ou impossibilidade de atualização na sua carreira e a desrealização do seu ofício, quando lhe tiraram a competência de avaliar se o aluno merece ou não ser aprovado.

Fonte: UOL Educação

(*) Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Família de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 25 livros.

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