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30 de dezembro de 2012

Feliz 2013

Carta de Ano Novo

Ano Novo é também oportunidade de aprender, trabalhar e servir. O tempo como paternal amigo, como que se reencarna no corpo do calendário, descerrando-nos horizontes mais claros para necessária ascensão.

Lembra-te de que o ano em retorno, é novo dia a convocar-te para a execução de velhas promessas que ainda não tivestes a coragem de cumprir.

Se tens inimigos faze das horas renascer-te o caminho da reconciliação.

Se foste ofendido, perdoa, a fim de que o amor te clareie a estrada para frente.

Se descansaste em demasia, volve ao arado de tuas obrigações e planta o bem com destemor para a colheita do porvir.

Se a tristeza te requisita esquece-a e procura a alegria serena da consciência tranquila no dever bem cumprido.

Ano Novo! Novo Dia!

Sorri para os que te feriram e busca harmonia com aqueles que te não entenderam até agora.

Recorda que há mais ignorância que maldade em torno de teu destino.

Não maldigas nem condenes.

Auxilia a acender alguma luz para quem passa ao teu lado, na inquietude da escuridão.

Não te desanimes nem te desconsoles.

Cultiva o bom ânimo com os que te visitam dominados pelo frio do desencanto ou da indiferença.

Não te esqueças de que Jesus jamais se desespera conosco e, como que oculto ao nosso lado, paciente e bondoso, repete-nos de hora a hora: - Ama e auxilia sempre. Ajuda aos outros amparando a ti mesmo, porque se o dia volta amanhã, eu estou contigo, esperando pela doce alegria da porta aberta de teu coração.

Pelo Espírito Emmanuel

Polêmica: Inclusão das matérias Ética e Cidadania revela a contradição entre inchaço do currículo, ausência de docentes, racionalização da podridão republicana

Do O Globo:

Educadores criticam inclusão de ética e cidadania no currículo

Aprovado no Senado, o projeto de lei que prevê a inclusão de duas novas disciplinas obrigatórias (Cidadania Moral e Ética, no ensino fundamental, e Ética Social e Política, no médio) já está causando polêmica antes de ser votado na Câmara de Deputados. Os defensores da proposta do senador Sérgio Souza (PMDB-PR) argumentam que a atual crise de valores e o cenário de corrupção justificam a necessidade dos conteúdos. Mas educadores ouvidos pelo GLOBO são contra, alegando principalmente que a grade curricular do ensino básico já está saturada.

O próprio Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) reprovam a iniciativa. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, frisa que as escolas públicas já têm 13 disciplinas obrigatórias. — A sobrecarga não contribui para o aluno ter foco nas disciplinas essenciais, que são Matemática, Língua Portuguesa e Ciências. Presidente do Consed, Maria Nilene Badeca da Costa diz que os dois órgãos trabalham juntos na reformulação da Educação básica. Para ela, a inclusão das disciplinas inviabilizaria o projeto político pedagógico das escolas.

— Os currículos escolares já estão sobrecarregados, não há disponibilidade de espaço na matriz curricular. Não é necessário alterar a legislação. O Consed acredita que a experiência educacional já indica fortemente conteúdos relativos à ética, à cidadania e à política — defende Maria Nilene. De acordo com o Consed, esses conteúdos devem ser tratados de modo integrado com o currículo escolar, como eixos transversais, permeando a formação dos estudantes em todos os componentes curriculares existentes.

Mas o senador Sérgio Souza (PMDB-PR) defende sua proposta. Ele cita um levantamento feito pelo Fórum Econômico Mundial, com 60 países, que colocou o Brasil na 50ª posição no ranking de corrupção, e no 55º lugar na ineficiência da Justiça. Questionado se o projeto não seria um mea culpa por parte da classe política, Souza rebate: — Se formarmos cidadãos conscientes para serem representantes, eles irão para a política com propósitos diferentes, que não sejam voltados ao próprio interesse econômico. O cidadão já é corrupto no momento em que quer levar vantagem na fila do pedágio ou do mercado. A cultura brasileira tem isso de ser país do jeitinho, é vergonhoso.

Por isso, o senador defende a implantação de uma política educacional voltada para a formação moral e ética preparando os jovens para o exercício responsável da cidadania. Souza contesta os argumentos da falta de tempo e espaço no currículo: — Com a proposta de período escolar integral, essa justificativa cai por terra. Antes de discutirmos se há espaço, temos que discutir se é importante. Os argumentos não convencem a relatora das diretrizes curriculares no Conselho Nacional de Educação, Regina de Assis, que endossa as críticas. — Isso é desconhecimento de currículo. Não vejo necessidade de incluir mais duas disciplinas para se teorizar sobre isso. Já faz parte das metas curriculares e dos projetos político-pedagógicos. Desde a creche tem que se ensinar a ética a partir de valores e da prática — diz Regina, doutora em educação.

O professor Victor Notrica, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro, lembra que o conteúdo proposto pelas novas disciplinas já é trabalhado pelos professores. Ele ressalta a dificuldade de se cumprir o currículo atual nos 200 dias e 800 horas/ano obrigatórios por lei e levanta outro problema: — Não sei se há docentes especializados para dar esses conteúdos em disciplinas específicas. Isso tudo faz parte do dia a dia escola. Os professores das ciências sociais, exatas e Língua Portuguesa já fazem uma abordagem de ética e cidadania. A inclusão obriga uma exclusão. Vai hipersaturar a carga horária dos estudantes e tumultuar ainda mais a grade curricular pelo excesso de conteúdo.

Alguns colégios cariocas alegam que já transmitem esses valores em outras disciplinas. O pH, por exemplo, tem a Aula de Vida para o ensino fundamental e de Atualidades para o médio. O São Bento ministra ensino religioso para os menores e teologia para os mais velhos. Diretora do São Bento, Maria Elisa Penna Firme lembra que a escola funciona das 7h30m às 17h30m. — Já temos 15 disciplinas. Para entrar duas disciplinas, temos que tirar carga horária daquelas que já compõem o currículo. São temas importantes, mas que devem ser abordados dentro de Filosofia, Sociologia e Geografia — diz ela.

Rui Alves, diretor de ensino da rede pH, é menos refratário. Se a proposta virar lei, o colégio adaptará o conteúdo trocando os nomes das matérias: — São disciplinas importantes para a formação dos alunos. A grande preocupação é contornar essa situação dentro da grade desses segmentos. Secretária municipal de Educação, Cláudia Costin também está preocupada com a carga horária. — Enquanto não resolver a questão da carga horária, sou contra. Nas nossas 119 escolas com 7 horas diárias, estamos incluindo a disciplina Educação para Valores. Nas demais, com média de 4 horas de aula/dia, se entrar mais uma disciplina, vamos ter menos tempo para trabalhar Matemática, Português e Ciências, que têm se saído tão mal em rankings internacionais.

Um currículo em crescimento constante

Elaborado pelo senador Sérgio Souza, o projeto que prevê a inclusão das duas disciplinas no currículo tem como relator o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB). O texto, que ainda será submetido a votação na Câmara dos Deputados, não é o primeiro a propor mudanças curriculares na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996. A cada ano, a legislação vai crescendo junto com os currículos. A alteração mais recente aconteceu em abril deste ano, quando foram incluídos os princípios de proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos dos ensinos fundamental e médio nas escolas.

Em 2008, a inclusão de Filosofia e Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio também gerou polêmica e até hoje é questionada. — A inclusão de Sociologia e Filosofia já foi demais. Tem que haver um projeto de currículo nacional, com conteúdos mínimos necessários para se aprender em cada série, e alguns aspectos regionais, que podem variar de estado para estado — defende Rubem Klein, da Associação Brasileira de Avaliação Educacional. Também em 2008, a música passou a ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo do ensino de Artes.

No mesmo ano, tornou-se obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena em todo o currículo dos ensinos fundamental e médio, em especial em Artes, História e Literatura. Um ano antes, o ensino fundamental passou a ter, obrigatoriamente, conteúdo sobre os direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz o Estatuto da Criança e do Adolescente. Mais recentemente, em 2011, o estudo sobre os símbolos nacionais passou a ser incluído como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.

Comento:

Os meandros desta bela iniciativa escancaram três situações: a ineficiência do MEC em lidar com a versatilização do currículo nacional, a incapacidade do ensino público incrementar seus quadros com docentes especializados para ministrar temas tão efervescentes e uma terceira, que eu reputo como crítica se não controlada - que a validação deste projeto de lei não torne nossas salas de aula a racionalização dos crimes perpetrados pelos poderes da República, em prol de uma ética e de uma cidadania que só existe na "lei de Gerson".

29 de dezembro de 2012

Escolas KIPP, uma solução para nos livrarmos do sistema de cotas

Do Estadão:

As escolas KIPP estão em evidência

A rede escolar americana KIPP é uma organização sem fins lucrativos que atua em bairros carentes, com a maioria os estudantes de origem humilde, sendo 95% afro-descendentes ou latinos. Esse conjunto de escolas vem chamando a atenção por causa dos bons resultados alcançados nos exames nacionais, pela baixa taxa de evasão e pelo significativo percentual de seus egressos que vão para o ensino superior.

Estas escolas se baseiam em um compromisso firmado entre professores, estudantes e pais para colocar o aprendizado em primeiro lugar. Estudantes só são aceitos nas escolas se eles e seus pais, com o apoio dos professores, se comprometem formalmente a fazer de tudo para que os estudantes aprendam. As escolas se baseiam em altas expectativas de sucesso dos estudantes, nesse compromisso firmado e na dedicação de estudantes, professores e pais, em dias letivos mais longos, com muitas atividades extracurriculares, na autonomia acadêmica e financeira da gestão da escola e no foco explícito que mede resultados pelo desempenho obtido em exames nacionais e na aceitação dos egressos nos cursos superiores. Eles cobram e recebem muito esforço da parte de todos!

As taxas de conclusão do ensino médio dos estudantes que terminaram o ensino fundamental em uma escola KIPP atingem 95%, e 89% de seus egressos são aceitos no ensino superior. É um grande sucesso de resultados. Cerca de 46% de seus egressos terminam a universidade, o que está aquém das expectativas dos dirigentes da KIPP, mas bem acima da média para a mesmo extrato da população, que é somente de 8%.

A minha experiência própria me ensinou que acreditar na capacidade dos estudantes é uma profecia auto-realizável. Se acreditarmos neles, eles aprenderão mais e melhor. O foco excessivo nos resultados dos exames, embora vá contra a posição da maioria dos educadores que defendem, com razão, que a formação ideal do estudante deve ser mais ampla e menos direcionada a exames específicos, deve ser entendido no contexto destas escolas. As escolas KIPP se colocaram em uma guerra, e esta guerra, traduzida na sua missão, é a de trabalhar com os estudantes das regiões mais carentes, que nunca tiveram chance, e prepará-los para se transformar em profissionais de nível superior.

Nesta guerra, a estratégia adotada é o foco nos exames, ou seja, o alcance de uma real oportunidade para esses alunos ascenderem socialmente. A escola não diz que se estivesse tratando com estudantes oriundos de famílias de alto poder econômico e de alto nível cultural adotaria a mesma tática. As escolas KIPP parecem ser um sucesso porque alcançam aquilo que se propuseram a fazer.

Ficam algumas lições: a obsessão pelo sucesso do aluno (a definição de sucesso depende da missão da escola e da aceitação dos pais) é indispensável em qualquer sistema educacional, só se vence com muito esforço de todos, a valorização (não somente na educação) do estudante é uma profecia auto-realizável e, muitas vezes, o ótimo é inimigo do bom (o foco somente nos exames, por exemplo).

Segunda graduação

Do O Globo:

Censo 2010: 10,8% dos universitários estão cursando a segunda graduação

O IBGE divulgou, nesta quarta-feira (19), dados inéditos sobre o perfil universitário brasileiro nos resultados da amostra de educação e deslocamento do Censo Demográfico 2010. Segundo o estudo, entre os estudantes de ensino superior, 10,8% já eram formados e estavam cursando uma segunda graduação. O maior percentual foi observado na região Sudeste, com 12,7%, contra 8,8%, no Sul, o menor do país. De acordo com a pesquisa, a incidência cresce junto com o aumento da idade: de 3,9% entre universitários de até 24 anos, a 30,1%, com 40 anos ou mais. O índice também é mais alto entre os ocupados no mercado de trabalho (12,6%) em relação aos não ocupados (7,2%).

Jacqueline Resch, especialista em recursos humanos, aponta duas hipóteses principais para o retorno à vida universitária de pessoas mais velhas, já formadas e empregadas: a necessidade de se adaptar a um mercado cada vez mais competitivo e multidiscplinar ou o redirecionamento da carreira. — Ou a pessoa escolheu uma carreira e não se identificou ou sente necessidade de complementar a formação com alguma área que não domina. Como as empresas exigem cada vez mais dos funcionários, há uma busca maior pelo conhecimento. Hoje, as pessoas trabalham em equipes muito interdisciplinares, o que pode despertar mais interesse e necessidade. Isso aumenta com a idade mais avançada, quando a situação financeira já está mais estável — explica Jaqueline.

Sócia-diretora da Resch Recursos Humanos, que faz processos seletivos para empresas como Brasil Brokers, Shell, Vale e White Martins, ela exemplifica como isso pode ocorrer na prática: — Isso ocorre com pessoas que estão mais antenadas com a demanda do mercado e que vão para cargos de gestão. Se não têm formação em Administração, buscam esse segundo curso, por exemplo. Podem optar por Direito também, por lidar com contratos, e acharem que vão ter um entendimento maior nessa área. Emanuelle Morais Braga, de 33 anos, se encaixa nesse perfil. Formada originalmente em Publicidade, ela sentiu a necessidade de estudar Direito depois que começou a trabalhar na área de compras e licitações públicas do Ministério do Esporte. Hoje, ela concilia a segunda faculdade com o emprego.

— Fiz Comunicação primeiro e não estava atuando na minha área. Como meu trabalho é muito ligado à legislação, resolvi ampliar o conhecimento na área de publicidade e propaganda para poder advogar na área de direito empresarial. É uma luta: ao mesmo tempo, preciso do trabalho para pagar a faculdade — conta a brasiliense. Seu irmão Bruno, de 27 anos, está seguindo caminho parecido. Ele se formou em Aviação Civil em 2008. Diante das dificuldades da profissão, decidiu voltar à universidade em 2010. Hoje, cursa Engenharia Civil e estagia numa construtora. Bruno explica que a escolha aliou suas aptidões ao aquecimento do mercado.

— O que mais me motivou a não continuar a carreira de piloto foi o dinheiro. No início, é um gasto muito alto sem receber nada em troca. Agora, estou no 5º período de engenharia e ganho bem como estagiário. Como prefiro a área de cálculo e gosto muito das exatas, pelo que pesquisei era o que mais se encaixava no meu perfil, além de ser uma área que carece de profissionais capacitados — diz Bruno. Para Andrea Ramal, consultora em educação, dois fatores explicam a opção pela segunda graduação, um mercadológico e outro cultural. O primeiro aspecto pode ser motivado pela escassez de oportunidades profissionais ou pela percepção de uma escolha inadequada. Por isso, ela acredita que a volta aos estudos se intensifique à medida em que se fica mais velho.

— A esta altura, a pessoa já tem mais maturidade para verificar por onde vai o mercado, onde estão as melhores oportunidades e até mesmo qual é sua maior vocação, o que nem sempre acontece na escolha da primeira carreira, quando o estudante é bem jovem e imaturo — compara Andrea.

Na perspectiva cultural, Andrea também cita a interdisciplinaridade e a conexão de saberes, características da atual sociedade. Ela enxerga nesse campo a justificativa pela escolha de um novo curso de ensino superior em vez de uma pós-graduação: — Alguns profissionais podem ter interesse não em se especializar cada vez mais numa área só (MBA, pós, mestrado etc.), mas em diversificar seu olhar e experiência profissional. Nesses casos, é mais comum que a pessoa busque uma segunda graduação que complemente a primeira. Exemplo: professor ou médico fazendo psicologia, advogado fazendo relações internacionais etc. Às vezes, essas opções são mais valorizadas no mercado, do que uma pós feita muito cedo.

Práticas comuns da educação de qualidade

Do O Globo:
  
Estudo identifica práticas comuns de escolas com bons resultados em áreas pobres

O que há em comum entre escolas que, mesmo atendendo alunos pobres, conseguem fazer com que todos tenham acesso a um ensino de qualidade? Para responder a esta pergunta, a Fundação Lemann acompanhou de perto seis colégios públicos — no Rio, em Sobral (CE), Pedra Branca (CE), Palmas (TO), Acreúna (GO) e Foz do Iguaçu (PR) — que hoje têm pelo menos 70% dos alunos no nível adequado em Matemática e Português e apenas 5% de conceito insuficiente no primeiro ciclo do ensino fundamental.

— Partimos de 215 escolas para chegar a essas seis. Usamos a Prova Brasil para saber a escolaridade e a ocupação dos pais e ainda os bens que têm em casa, com foco nos alunos do 5º ano — conta Ernesto Faria, coordenador de projetos da Fundação. — Daí, focamos em experiências que podem ser replicadas em outros lugares. Quando a gente fala em melhorar, por exemplo, a formação inicial e o plano de carreira, isso demanda esforços diversos. Essas escolas, no entanto, investem no que está mais à mão, mais fácil de alcançar.

A pesquisa foi feita depois que O GLOBO publicou a reportagem “Aula de Excelência na Pobreza”, vencedora do Prêmio Esso de Educação. A série contava, a partir de levantamento em parceria com a Fundação Lemann, a história de boas escolas públicas em áreas carentes.

Entre as ações que podem ser replicadas, quatro são comuns a todas as escolas visitadas. Em Pedra Branca e Sobral, no Ceará, e Foz do Iguaçu, no Paraná, a pesquisa constatou que as secretarias de Educação trabalharam para identificar os pontos fracos em relação ao aprendizado, passaram a acompanhar os resultados das avaliações e, a partir daí, desenvolveram um plano para recuperar o ensino. Tudo com metas claras e com foco bastante específico: fazer com que todos os alunos aprendam o conteúdo esperado para sua série na idade certa.

As escolas visitadas em Acreúna, em Goiás, no Rio e em Palmas, no Tocantins, passaram pelo mesmo processo, ainda que ele não tenha sido estendido para toda a rede. — Isso nos fez ver que tão importante quanto a política a ser desenvolvida é a maneira como é implementada, se tem ou não acompanhamento contínuo. No caso do acompanhamento das secretarias de Educação, se o professor acha que está sendo monitorado, se não acredita na meta, vai ser difícil ir adiante. Não adianta ter a ideia mais brilhante se quem está na ponta, o professor, não acreditar nela — diz Faria, lembrando que nessas escolas as secretarias agiram de modo que todos percebessem que estavam sendo ajudados com soluções.

Bônus para professores

Para estimular que as metas fossem cumpridas, as redes passaram a dar bônus aos professores que garantem o aprendizado de seus alunos. Em algumas secretarias, se a escola vai bem no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb), todos recebem bônus. Em Foz, por exemplo, os profissionais das unidades que conquistam desempenho maior ou igual à meta do Ideb recebem o 14º salário. Para cumprir as metas, as escolas passaram a ter que acompanhar de perto o aprendizado dos alunos. “O nosso trabalho é todo dia, é corpo a corpo, uma dedicação diária”, conta um professor entrevistado pelos pesquisadores. “Nossa rotina é de acompanhamento individual do professor e do aluno, se atentando ao que eles estão precisando”, explica um coordenador pedagógico.

Algumas escolas estabeleceram avaliações oficiais, que ajudam a identificar os estudantes que precisam de reforço escolar. Em Foz do Iguaçu, a equipe da Secretaria de Educação percorre as escolas e analisa os cadernos dos alunos do 4º e 5º anos, além de observar a aula dada. — Percebemos que o modelo não se limita a relatar para a Secretaria o que foi visto, mas se preocupa em mostrar como é possível melhorar. Foz tem 51 escolas municipais e a pior tem 65% dos alunos no nível adequado de aprendizado — conta Faria.

Com os dados em mãos, passaram a investir em formação continuada. Em Pedra Branca, quando a avaliação aponta que um determinado professor consegue ensinar um conteúdo em que os outros têm dificuldades, ele é chamado para explicar o método. Nas seis escolas, os estudantes que têm desempenho acima da média são estimulados e recebem treinamento para participar, por exemplo, de olimpíadas de conhecimento. Outro ponto comum entre elas é que nenhuma medida é tomada com base na intuição. “A gente achava que podia transformar com o nosso conhecimento de senso comum. Só que a gente viu que não, que precisava de conhecimento científico”, diz um coordenador pedagógico entrevistado pelos pesquisadores.

As escolas pesquisadas conseguiram ainda criar um ambiente agradável, que deixa os alunos à vontade para aprender. As unidades são seguras, limpas e têm prédios preservados. Algumas contam com psicólogos, fonoaudiólogos e nutricionistas. — Isso é fundamental, porque os alunos precisam estar num lugar em que se sintam bem e que os ajude a lidar com o ambiente fora da escola — diz Faria. — Vimos que as crianças gostam da escola, citam professores específicos, fazem desenhos retratando o local. E também que os pais não são chamados apenas quando os filhos vão mal. A participação deles é incentivada. Se eles vão à escola, mesmo que sejam analfabetos e não possam auxiliar no dever de casa, podem checar se foi feito. Já é um passo muito importante.

ENEM 2012

Da Veja:

Nota do Enem 2012 já está disponível para consulta

Para conferir seu desempenho, participante deve fornecer número CPF ou de inscrição, além da senha cadastrada

O Ministério da Educação (MEC) liberou para consulta nesta sexta-feira o boletim de desempenho individual no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2012. Os participantes devem acessar o site da prova e fornecer o número de CPF ou da inscrição, além da senha cadastrada no ato da inscrição. Caso o participante tenha perdido a senha, é possível recuperá-la na própria página do Enem.

O boletim apresenta o desempenho do candidato nas quatro áreas avaliadas. São elas: linguagens, matemática, ciências humanas e da natureza, além da nota de redação. O Enem 2012 foi aplicado entre os dias 3 e 4 de novembro para cerca de 5 milhões de estudantes. Vale lembrar que o Enem é corrigido segundo a Teoria da Resposta ao Item (TRI), um método internacionalmente difundido em que a nota final não é resultado da simples soma do número de questões que o participante acerta. Isso porque nem todas questões têm o mesmo valor.

Se o participante acerta somente questões difíceis, sinaliza ao sistema de correção inconsistência no domínio da disciplina avaliada, pois a TRI considera que o conhecimento necessário à resolução dos testes fáceis é um pré-requisito à solução dos mais complexos. Em uma situação como essa, portanto, o sistema avalia que é alta a probabilidade de o acerto ser fruto da sorte (ou de boa mira para o "chute").

Para ajudar os participantes a entender melhor como é caculada a nota do Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia do MEC, divulgou nesta sexta-feira uma cartilha sobre a TRI e os métodos de correção da avaliação nacional. O material está disponível para download.  Com a nota do Enem em mãos, os estudantes poderão se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) a partir de 7 de janeiro. O Sisu é o programa que seleciona estudantes para instituições públicas de ensino superior com base exclusivamente na nota do Enem. Para o primeiro semestre de 2013 estão sendo oferecidas quase 130.000 vagas em mais de 3.500 cursos e 101 universidades e institutos. Os interessados têm até o dia 11 para fazer a inscrição no sistema.

Também com a nota do Enem será possível concorrer a uma das bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni). O cronograma de inscrições deve ser divulgado pelo MEC no início de próximo mês. Além disso, o Enem auxilia na disputa de bolsas do programa Ciência sem Fronteiras, na obtenção de financiamento estudantil e serve como bônus em diversos vestibulares de universidades públicas e privadas. 

Falha técnica - Na tarde de quinta-feira, uma falha no sistema do MEC permitiu que alguns estudantes tivessem acesso antecipado à nota de redação do Enem 2012. Isso porque, por volta das 16h o ministério realizava os últimos procedimentos para a divulgação oficial dos resultados. Durante as últimas etapas da fase de testes, os resultados da prova de redação ficaram visíveis aos participantes que estavam na página no momento.

Novo acordo ortográfico só em 2016

Da Veja:

Novo acordo ortográfico só será obrigatório em 2016

Em vigor desde 2009, mudanças na língua portuguesa se tornariam obrigatórias em janeiro de 2013. Senadores querem mais tempo para adaptações

Livros

A presidente Dilma Rousseff adiou por mais três anos o início da obrigatoriedade do uso do novo acordo ortográfico, em vigor desde 2009. Com isso, as novas regras, que se tornariam obrigatórias em 1º de janeiro de 2013, só poderão ser cobradas a partir de 1º de janeiro de 2016. O novo prazo foi regulamentado no Diário Oficial da União desta sexta-feira.

O adiamento já era esperado. Desde o início do ano, senadores pedem mais tempo para o país se adaptar às novas regras e discutir a reforma. Em abril, Ana Amélia Lemos (PP-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF), Cyro Miranda (PSDB-GO) e Paulo Bauer (PSDB-SC) promoveram uma audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado para a discussão do tema. As regras do novo acordo estão prontas desde 1990, quando o texto foi elaborado e aprovado pelos então representantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) - Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Na época, o Timor-Leste, que hoje faz parte da Comunidade, ainda não era uma nação independente. O país só aderiu ao acordo em 2004, após tornar-se independente.

A partir de então, cada país deveria ratificar o documento assinado e definir os prazos para a entrada em vigor do novo acordo. Em Portugal, a reforma foi ratificada e promulgada em 2008 e as novas regras entraram em vigor em maio de 2009, com a previsão de se tornarem obrigatórias no prazo de seis anos. No Brasil, o acordo foi ratificado em setembro de 2008 e as novas regras já estão em uso, embora em caráter não obrigatório, desde 1º de janeiro de 2009. O acordo também já foi ratificado por Cabo Verde (2006), São Tomé e Príncipe (2006), Guiné-Bissau (2009) e Timor Leste (2009). Moçambique e Angola ainda não ratificaram o documento.

26 de dezembro de 2012

A seleção de professores competentes para a educação particular

Do Brasil Escola:

Selecionando professores competentes

 Por Elen Campos Caiado (*)

Ao se tratar da seleção de professores na contratação para a rede particular ocorre um diferencial, visto que na rede pública esta é realizada através de concursos e na particular por meio de avaliação curricular. 


Os requisitos exigidos para a contratação de um educador competente.
  Pois bem! Você, educador que manifesta interesse em atuar na rede particular de ensino, sabe quais são os requisitos que atualmente são prioridades no momento de definir qual o profissional a ser contratado?

Considerando a grande exigência das redes particulares de ensino no momento de selecionar o professor ideal para sua instituição, geralmente é realizada uma avaliação minuciosa do currículo, seguida de entrevistas detalhadas e principalmente a solicitação de uma aula na qual o profissional será avaliado quanto à sua prática.


Buscando orientar o profissional para que possa providenciar o que realmente faz a diferença no processo seletivo, contribuindo com melhores chances de serem contratados, segue abaixo algumas características e requisitos referentes à docência que são bastante relevantes para o reconhecimento do profissional e conseqüentemente abrindo caminho para novas oportunidades de trabalho:


EXPERIÊNCIA ANTERIOR:
busque manter-se em uma escola por bom tempo, visto que professores que mudam continuamente de escolas são encarados de forma negativa, principalmente por estar trocando constantemente o tipo de metodologia;

CARACTERÍSTICAS PESSOAIS:
Toda escola tem seu próprio perfil de professor, podendo coincidir certas exigências totalmente ou em partes com outras ou apresentarem perfis diferenciados que geralmente variam de acordo com uma série de fatores como: metodologia, social, religioso, econômico, etc. 

Vale ressaltar que certas características são colocadas como fundamentais para todos os professores, como capacidade de inovar e adaptar as possíveis mudanças da instituição, dinamismo, flexibilidade, criatividade, entre outros.

CONHECIMENTO DE INFORMÁTICA:
principalmente por se referir à rede particular, onde geralmente ocorre a iniciação de informática desde a Educação Infantil com aulas ministradas em laboratórios.

LEITURA VARIADA:
estar sempre atualizado, tendo o hábito diário da leitura, requisito fundamental para uma boa formação cultural, atuando como uma excelente fonte de informação para a escola como um todo. 

Ser bem informado é requisito básico para qualquer professor que busca se atualizar profissionalmente, conhecendo novas metodologias e os resultados das últimas pesquisas em sua área.

ATUALIZAÇÃO PERMANENTE: a reciclagem, seja através de cursos ou da participação em congressos e seminários, é eterna para todo profissional capacitado e completo.

POSTURA PESSOAL:
ter espírito de coletividade é fundamental para todo educador. A troca de experiências, principalmente através do trabalho em equipe de forma interdisciplinar, proporciona um trabalho de qualidade que irá refletir no desempenho dos alunos.

DOMÍNIO DE CLASSE:
ponto de partida para iniciar qualquer trabalho com os alunos. Ressaltando as regras que irão promover a disciplina, porém colocadas de forma justa e democrática com a participação dos alunos, enfatizando que determinadas regras são obrigatórias e necessárias para esclarecer as conseqüências das atitudes condenadas na classe, na escola ou na sociedade.

DOMÍNIO DE LÍNGUAS:
primeiramente falar e escrever corretamente a língua portuguesa, levando em consideração a importância de todo profissional dominar uma segunda língua. Costuma-se optar em especial pelo inglês, por se tratar da língua mais importante e requisitada, inclusive por ser uma língua falada em vários países, o que facilita o acesso às fontes de informação, tendo a internet como um dos meios mais utilizados, pois normalmente as fontes são bastante diversificadas. 

Vale ressaltar que a escolha dessa segunda língua é pessoal, varia de acordo com os desejos e necessidades de cada indivíduo. Aos educadores que estão na busca constante por novas oportunidades de trabalho, eis uma forma de contribuir e desejar os votos de boa sorte e sucesso! 

(*) Graduada em Fonoaudiologia e Pedagogia

25 de dezembro de 2012

Aniversário de 4 anos do Blog da Educadora

































 Hoje, 25 de dezembro, o Blog da Educadora completa quatro anos de existência. Já ultrapassamos a marca de 200 mil visitantes e hoje já são 236 mil, originários de 112 países e de 3.511 cidades do Brasil e do mundo. Agradeço a todos, que oriundos de buscas pelos mecanismos de consulta da rede ou que nos visitam com regularidade, têm feito nossa história e construído nosso sentido de existir. Os assuntos mais procurados foram metodologia de ensino, portfólio escolar e alfabetização, caracterizando o viés educacional daqueles que aportaram neste espaço cultural. Meu trabalho, já concretizado em 616 postagens, visa ajudar em tempo real a divulgação de assuntos de interesse da qualidade do ensino e algumas inserções de minha própria autoria emolduram uma iniciativa que objetiva reforçar, no âmbito da rede mundial de computadores, a importância da temática pedagógica e educacional. Agradeço a Deus por ter me concedido inspiração para escolher bons assuntos a serem transcritos. Agradeço aos meus familiares a tolerância por ver-me seguidamente em atividade tão estranha à rotina doméstica e agradeço também a todos aqueles que voluntariamente ou por acaso visitaram o Blog da Educadora, que a partir desta data rumará com destino ao quarto aniversário. Que no próximo ano, ao apagarmos as 5 velinhas, tenhamos um país mais consciente da necessidade de educar com qualidade sua população, confirmando com essa ação sua condição de potência mundial. Feliz 2013 e muito obrigada a todos.

23 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal

Bilhete de Natal

Meu 
amigo,
 não te esqueças,Pelo 
Natal de Jesus, De cultivar na 
embrança A paz, a verdade e a luz. Não 
olvides a oração Cheia de e de amor, Por 
quem passa, sobre a Terra, Encarcerado na dor.
Vai buscar o pobrezinho E o triste que nada tem...
O infeliz que passa ao longe Sem o afeto 
de ninguém. Consola as mães 
sofredorasE alegra o órfão que vai
Pelas estradas do mundo
Sem os carinhos 
de um pai.
Mas escuta: 
Não te esqueças,
Na doce 
revelação,
Que Jesus 
deve nascer
No altar 
do teu coração.
Pelo Espírito Casimiro Cunha

A deseducação do sistema de cota

Da Veja:

'Cota não resolve problema da educação. Ela cria ilusão'

A estudiosa afirma que, apesar da propaganda acerca da reserva de vagas, a esmagadora maioria dos jovens seguirá sem lugar na universidade pública

Nathalia Goulart
Eunice Durham, professora de antropologia da USP
Eunice Durham, professora de antropologia da USP 
 
'O vestibular é talvez o mecanismo mais justo de seleção. Só passa quem tem capacidade. O filho do senador e o filho da doméstica fazem exatamente a mesma prova. Agora, se os que passam são majoritariamente provenientes da parte mais rica de população é por culpa do sistema público, que é de péssima qualidade. Não é o vestibular que é elitista – é o sistema básico que é desigual'.
 
Em agosto, a presidente Dilma Rousseff assinou a chamada lei das cotas, que reserva 50% das vagas de universidades federais a estudantes oriundos de escolas públicas de ensino médio. Nesta semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, lançou um programa de inclusão social para as três universidades públicas paulistas, USP, Unicamp e Unesp – apontadas nos rankings internacionais como centros de excelência em pesquisa no Brasil. "Embora a proposta pareça um pouco melhor do que a lei federal, está longe de ser a solução", diz a antropóloga Eunice Durham.

Ex-secretária de política educacional do Ministério da Educação, membro do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da USP e estudiosa do ensino superior, Eunice acusa a nova proposta de carregar o mesmo discurso e enganos revelados em 2002, quando foi adotada pela primeira vez no país o mecanismo de reserva de vagas (por raça, então), na UFRJ. "Tanto as cotas raciais como as cotas sociais são remendos demagógicos", diz. "Existe uma grande desigualdade educacional entre pobres e ricos, negros e brancos. Mas a questão é que isso está sendo combatido no lugar errado. Querem consertar as desigualdades do Brasil na porta da universidade, sendo que o problema se origina na educação básica."

Para quem acha que a posição é ideológica, a professora oferece números. "Mesmo com toda essa propaganda de que a universidade agora está de portas abertas para os alunos da rede pública, 95% da população jovem vai seguir fora da universidade pública." Mais efetivo e justo, defende a antropóloga, seria a criação e manutenção, pelas universidades públicas, de cursos pré-vestibulares que preparassem os estudantes da rede pública para o ingresso no vestibular. "Desde que a universidade chegou ao Brasil, as famílias ricas recorrem a esse tipo de aulas adicionais para garantir que seus filhos tenham o conhecimento necessário para passar no vestibular. Por que não oferecer a mesma oportunidade para os pobres?", indaga a estudiosa. Confira a seguir trechos da entrevista que ela concedeu ao site de VEJA.

Como docente da USP e membro da comunidade acadêmica, como a senhora recebeu a notícia de que a universidade deve aderir ao programa de cotas do estado? Embora pareça um pouco melhor do que a lei federal, a proposta do governo estadual está longe de ser a solução. A ideia pode até ser aproveitada, mas precisa ser melhor analisada. Não podemos implementar um plano assim, sem testar outras alternativas. 

Quais os problemas das políticas de cotas? Tanto as cotas raciais como as cotas sociais são remendos demagógicos. Entendo que os problemas que elas visam combater são reais. De fato, existe uma grande desigualdade educacional entre pobres e ricos, negros e brancos. Mas a questão é que isso está sendo combatido no lugar errado. Querem consertar as desigualdades do Brasil na porta da universidade, sendo que o problema se origina na educação básica. Não é o vestibular que discrimina. O vestibular é talvez o mecanismo mais justo de seleção. Só passa quem tem capacidade de passar, não há beneficiados. O filho do senador e o filho da doméstica fazem exatamente a mesma prova. Agora, se os que passam são majoritariamente provenientes da parte mais rica de população é por culpa do sistema público, que é de péssima qualidade. Não é o vestibular que é elitista – é o sistema básico que é desigual.

Hoje, cerca de 80% dos alunos da educação básica estão matriculados na rede pública. Não é natural desejar que universidades federais e estaduais atendam também a essa população? A questão primordial é que as cotas não dão conta de incluir toda essa gente. Posso citar alguns números: no estado de São Paulo, menos de 30% dos jovens estão matriculados no ensino superior – há, portanto, pelo menos 70% de excluídos. Dos 30% incluídos, as universidades públicas atendem apenas 15% do total de matriculados, isto é, 4,5% dos jovens – menos de 5%. As cotas não mudam esse cenário porque não criam vagas, elas apenas fazem a redistribuição. Querem criar um programa para incluir mais negros nesse porcentual de 4,5%, mas isso em nada vai alterar o nível crucial de exclusão que temos. Eu sou contra cota racial: ela penaliza outra parte da população que também precisa de estímulos: os brancos pobres.

As cotas são uma falsa ideia de inclusão, então? Exatamente. Mesmo com toda essa propaganda de que a universidade agora está de portas abertas para os alunos da rede pública, 95% da população jovem vai seguir fora da universidade pública. Por isso as cotas são demagógicas. Elas não lidam com o problema, elas criam uma ilusão.

E qual é o verdadeiro problema? No Brasil, existe uma cultura de que ensino superior é sinônimo de universidade. Criou-se esse mito de que todo mundo precisa ser doutor e que curso técnico profissionalizante é algo menor, degradante. O país precisa oferecer cursos diferenciados para populações diferenciadas. Tem gente quem quer aprender sobre as coisas e tem gente que quer aprender a fazer coisas. Temos que oferecer escola para todo mundo, ou você acha que todo mundo precisa estudar física quântica na USP? O Brasil tem que decidir se quer colocar todo mundo na universidade ou se quer criar um ensino superior que ofereça condições para dar à maioria da população a condição para continuar os estudos depois do ensino médio, aprender uma profissão, se inserir no mercado de trabalho e exercer uma cidadania responsável. Mas você vê alguém discutindo isso? Eu não vejo. Só vejo um monte de gente querendo sair bem na foto dizendo que vai colocar mais meia dúzia de estudantes nas universidade federais e estaduais. E achando que com isso vai resolver o problema da educação no Brasil.

Equacionar esses problemas levaria anos. O que fazer pela população pobre, majoritária nas escolas públicas, que está no ensino médio e precisa ser incluída no ensino superior? A solução mais imediatista que vejo é a criação, por parte das universidades públicas, de cursos pré-vestibulares de qualidade para alunos de baixa renda empenhados em ingressar no ensino superior. Alunos das próprias instituições poderiam atuar junto a professores como tutores e, estudantes que almejam ser professores, por exemplo, poderiam fazer estágio nesses cursos. Desde que a universidade chegou ao Brasil, as famílias ricas recorrem a aulas adicionais para garantir que seus filhos tenham o conhecimento necessário para passar no vestibular. Por que não oferecer a mesma oportunidade para os pobres? Esse pré-vestibular permitiria checar quais são as reais dificuldades dos alunos e os métodos mais eficazes para saná-las, pensando em depois replicá-los para a rede pública de educação básica. 

O programa do governo estadual prevê que os alunos realizem um curso prévio, de dois anos, antes de ingressar nas universidades, uma espécie de 'college' que garantiria um diploma de nível superior. Isso não seria suficiente? O programa prevê apenas que os que forem selecionados passem pelo curso. Não adianta nada privilegiar meia dúzia de pobres. É preciso oferecer oportunidade de crescimento a muito mais jovens. Pelo sistema que eu proponho, mesmo os jovens que não ingressarão na universidade pública terão a oportunidade de suprir as deficiências que acumularam ao longo da vida escolar. E estarão assim mais preparados para o mercado de trabalho.

Mas a senhora considera que os 'colleges' poderiam ser uma alternativa às universidades no futuro? Eu sou a favor da criação de ‘colleges’. Seria uma proposta revolucionária para o ensino superior brasileiro, mas não pode ser um 'college' emendado a um projeto de cotas para a universidade. Nos Estados Unidos, eles funcionam bem e atendem a mais da metade da população. Mas, no Brasil, o projeto ainda está muito cru. É preciso discuti-lo, saber como seria implantado, sua vigência e avaliação. Do jeito que foi apresentado, me parece apenas a resposta a uma pressão demagógica.

Indicadores internacionais mostram que as universidades públicas paulistas são a elite do ensino superior brasileiro, instituições dedicadas ao ensino e à pesquisa. As cotas podem afetar a qualidade dessas universidades? Eu acredito que sim. Existem algumas pesquisas que apontam o contrário. Elas, em geral, dizem que alunos cotistas têm desempenho inclusive superior aos não cotistas. Isso tem a ver com resiliência, a capacidade do estudante de se adaptar e vencer os obstáculos quando lhe é dada oportunidade. Mas no momento que essas pesquisas foram realizadas, as cotas tinham outra dimensão, incluíam um percentual muito menor de alunos. Agora estamos falando que metade de uma universidade será formada por alunos oriundos de uma escola de má qualidade. Não há como prever o futuro, mas acredito que a qualidade de uma instituição não depende apenas de bons professores, mas também do ingresso de bons alunos.

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