Sistema de numeração na pré-escola
Usar os algarismos encontrados no dia a dia dos pequenos em atividades que desafiem a comparação entre as grandezas é uma ótima estratégia para ensinar os números
Por Anderson Moço e Fernanda Salla
Eles estão por toda a parte e estão integrados à vida das pessoas - sejam elas crianças, jovens ou adultos - o tempo inteiro. Na porta de casa, no relógio, no calendário, na etiqueta da roupa... Ainda que os números pareçam indecifráveis, as crianças têm várias ideias a respeito deles. "Os pequenos conseguem perceber regularidades ao interagir com fragmentos da sequência numérica, pois buscam uma lógica para explicar o que não entendem. Fazem comparações e elaboram hipóteses sobre o funcionamento do sistema, mesmo que ainda não saibam o nome deles ou o que significam", explica Leika Watabe, assessora técnica educacional da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
Por isso, explorar esse conteúdo com a turma da pré-escola não só é possível como também importante - desde que da maneira adequada. Isso quer dizer tal como os números aparecem, sem falsos recortes e com propostas que incluam valores grandes e fora de ordem. Esses cuidados foram alguns dos que garantiram a Lisiane Hermann Oster o título de Educadora Nota 10 do Prêmio Victor Civita de 2010. "Não é porque as crianças são pequenas que têm de lidar só com números de um a dez", diz ela.
A então professora do Sesquinho - Escola de Educação Infantil do Sesc, em Ijuí, a 410 quilômetros de Porto Alegre, desenvolveu um trabalho de elaboração de um jogo de tipo Supertrunfo (leia o quadro na última página).Trata-se de um tipo de baralho que tem um tema definido (carros, por exemplo) e exibe em cada carta informações numéricas a respeito de um modelo (como velocidade e aceleração). As cartas são divididas entre dois ou mais jogadores. O primeiro a jogar deve pegar uma, escolher um dos dados (como a velocidade) e compará-lo com o do cartão dos adversários. Quem tiver o de menor valor tem de entregá-lo para o oponente que venceu a rodada. Ganha quem ficar com mais cartas ao fim da partida (leia o projeto didático).
O tema escolhido na sala de Lisiane foi medidas do corpo das próprias crianças (altura, peso e número do sapato). "Com foco claro e etapas bem encadeadas, que envolveram a formulação de hipóteses, leitura, escrita, pesquisa e comparações numéricas, Lisiane provocou a interação com números de grande magnitude", avalia Beatriz Gouvêa, formadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo, e responsável pela seleção do prêmio na área de Educação Infantil.
Simplificar as informações limita o conhecimento
Apesar de ainda existir a concepção de que os pequenos aprendem as coisas com um nível crescente de dificuldades, ou seja, primeiro deve-se explorar conteúdos simplificados e só depois em sua complexidade real, hoje é sabido que eles são capazes de interagir também com números grandes. Isso porque interpretam essas informações fazendo-se valer do conhecimento prévio que detêm. Afinal, conforme explicita Leika, com números pequenos, não é possível descobrir as regularidades do sistema, como o fato de toda dezena ter dois dígitos ou o grupo do 20 começar sempre com 2.
As especialistas argentinas Delia Lerner e Patrícia Sadovsky, no livro Didática da Matemática, explicam que a criançada, muito antes de suspeitar da existência de centenas, dezenas e unidades, estabelece relações entre a posição dos algarismos e o valor que eles representam, já demonstrando os primeiros sinais de conhecimento sobre o sistema posicional (em que um mesmo algarismo tem valores diferentes dependendo da posição que ocupa em relação aos outros componentes do número). A pesquisadora argentina Susana Wolman desenvolveu o estudo O Que Sabem as Crianças, com pequenos entre 3 e 5 anos. Ela constatou que eles estabelecem relação entre o oral e a escrita e no início tendem a se apoiar na fala para então escrever os números. Porém, como a numeração oral não é posicional (diferentemente da escrita), é a interação contínua com a escrita que permitirá às crianças descobrir gradativamente que ela não é regida estritamente pela oralidade.
Por isso, explorar esse conteúdo com a turma da pré-escola não só é possível como também importante - desde que da maneira adequada. Isso quer dizer tal como os números aparecem, sem falsos recortes e com propostas que incluam valores grandes e fora de ordem. Esses cuidados foram alguns dos que garantiram a Lisiane Hermann Oster o título de Educadora Nota 10 do Prêmio Victor Civita de 2010. "Não é porque as crianças são pequenas que têm de lidar só com números de um a dez", diz ela.
A então professora do Sesquinho - Escola de Educação Infantil do Sesc, em Ijuí, a 410 quilômetros de Porto Alegre, desenvolveu um trabalho de elaboração de um jogo de tipo Supertrunfo (leia o quadro na última página).Trata-se de um tipo de baralho que tem um tema definido (carros, por exemplo) e exibe em cada carta informações numéricas a respeito de um modelo (como velocidade e aceleração). As cartas são divididas entre dois ou mais jogadores. O primeiro a jogar deve pegar uma, escolher um dos dados (como a velocidade) e compará-lo com o do cartão dos adversários. Quem tiver o de menor valor tem de entregá-lo para o oponente que venceu a rodada. Ganha quem ficar com mais cartas ao fim da partida (leia o projeto didático).
O tema escolhido na sala de Lisiane foi medidas do corpo das próprias crianças (altura, peso e número do sapato). "Com foco claro e etapas bem encadeadas, que envolveram a formulação de hipóteses, leitura, escrita, pesquisa e comparações numéricas, Lisiane provocou a interação com números de grande magnitude", avalia Beatriz Gouvêa, formadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo, e responsável pela seleção do prêmio na área de Educação Infantil.
Simplificar as informações limita o conhecimento
Apesar de ainda existir a concepção de que os pequenos aprendem as coisas com um nível crescente de dificuldades, ou seja, primeiro deve-se explorar conteúdos simplificados e só depois em sua complexidade real, hoje é sabido que eles são capazes de interagir também com números grandes. Isso porque interpretam essas informações fazendo-se valer do conhecimento prévio que detêm. Afinal, conforme explicita Leika, com números pequenos, não é possível descobrir as regularidades do sistema, como o fato de toda dezena ter dois dígitos ou o grupo do 20 começar sempre com 2.
As especialistas argentinas Delia Lerner e Patrícia Sadovsky, no livro Didática da Matemática, explicam que a criançada, muito antes de suspeitar da existência de centenas, dezenas e unidades, estabelece relações entre a posição dos algarismos e o valor que eles representam, já demonstrando os primeiros sinais de conhecimento sobre o sistema posicional (em que um mesmo algarismo tem valores diferentes dependendo da posição que ocupa em relação aos outros componentes do número). A pesquisadora argentina Susana Wolman desenvolveu o estudo O Que Sabem as Crianças, com pequenos entre 3 e 5 anos. Ela constatou que eles estabelecem relação entre o oral e a escrita e no início tendem a se apoiar na fala para então escrever os números. Porém, como a numeração oral não é posicional (diferentemente da escrita), é a interação contínua com a escrita que permitirá às crianças descobrir gradativamente que ela não é regida estritamente pela oralidade.
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