Do Jornal Zero Hora:
Meritocracia em debate
Deve-se premiar o professor que ensina melhor e punir o que não consegue?
Avaliações internacionais apontam que se aprende pouco nas escolas do país. A insatisfação motiva uma discussão: deve-se premiar o professor que ensina melhor e punir o que não consegue? Uma realidade de implicações profundas está emergindo de estudos educacionais recentes: a de que o fator mais decisivo para definir o quanto uma criança aprende na escola é a qualidade do seu professor. O economista americano Eric Hanushek, da Universidade de Stanford, pesquisador eminente na área, descobriu que o aluno de um professor excelente em uma escola ruim aprende mais do que o de um professor ruim em uma escola excelente.– Um bom professor consegue o equivalente a um ano e meio de aprendizado, enquanto o mau professor consegue só meio ano. A única maneira de elevar o aprendizado é ter certeza de que há um professor bom em cada sala de aula – disse o pesquisador. Avaliações internacionais apontam que se aprende pouco nas escolas brasileiras. O desejo de reverter esse quadro tem levado autoridades e educadores e líderes empresariais a mexer em um vespeiro: há no Brasil um movimento pressionando pela aplicação de critérios meritocráticos. O princípio é dar aumento ao professor que faz os alunos aprenderem e punir o que não consegue. Trata-se do eco de uma discussão que vem balançando os Estados Unidos. Entusiasta da ideia de pagar conforme o desempenho, o presidente Barack Obama criou programas que despejam bilhões em recursos federais nos Estados e distritos que adotarem a prática. No Brasil, há partidários ardorosos e adversários ferrenhos. Entre os primeiros, está o economista Cláudio de Moura Castro, especialista em educação.
– É a lógica do mercado e da produtividade. Manter o professor ruim é o mesmo que uma fábrica de automóvel não demitir o funcionário que deixa passar carros com defeito na barra de direção – compara. A oposição mais radical vem dos sindicatos de professores. No ano passado, a proposta do Piratini de oferecer um 14° salário a quem atingisse metas foi torpedeada pelo Cpers. Nesta semana, o Ministério da Educação anunciou um exame para seleção de docentes, e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) foi para o ataque, vendo por trás da proposta uma maquinação para implantar a meritocracia. – Se a meta é fazer 500 unidades e o funcionário faz 300, pode demitir. Mas transferir isso para a escola não tem cabimento – diz o presidente da CNTE, Roberto de Leão.
O grande risco é desandar para o simplismo – ver a meritocracia ou como poção mágica, ou como veneno mortal. Especialistas lembram que as experiências ainda são raras, e os resultados, desconhecidos. Patrícia Guedes, do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, passou uma temporada analisando a reforma de ensino de Nova York, apontada como referência. Produziu um livro simpático ao modelo, mas é cuidadosa:
– Não pode ser algo feito de forma isolada. Precisa-se garantir que o professor tenha apoio adequado para conseguir resultados.Pagar por desempenho não pode ser uma política isolada porque não resolve o principal: o nível de quem ingressa no magistério não é o ideal no Brasil. Como a profissão não é atrativa, os mais talentosos, em geral, buscam outras carreiras. Vão para as faculdades que formam professores alunos que, na média, não eram dos mais brilhantes. Para complicar, esses cursos são ruins. Um estudo da consultoria McKinsey analisou os países com melhor educação. A base era a Finlândia, com o ensino mais bem avaliado. Concluiu que os campeões de qualidade não premiam o mérito. O foco está no recrutamento. Para atrair os melhores, os salários são altos, e a carreira, promissora. As faculdades de Educação são das mais concorridas.
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