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26 de novembro de 2010

A linguagem do desenho

Do Clicfilhos:

Desenho, canal de comunicação

Por Lucy Casolary (*)
Quando se observa uma criança desenhando nem sempre se avalia a importância desse ato para o seu desenvolvimento. Parece uma atividade trivial. "Afinal é só um rabisco. Meu filho diz que desenhou uma árvore, mas não parece... a combinação de cores é tão estranha!", dizem certos pais. Não é preciso ser especialista, mas sabendo como o desenho evolui, você terá um canal muito sensível de comunicação com seu filho, o que reforça o seu vínculo com ele. Cultivar mais uma forma de dividir sentimentos, sensações e prazeres, nesses tempos de mudanças velozes, mais do que um acréscimo, é uma necessidade.

Garatuja, garrancho ou rabisco

Quando uma criança, por volta de um ano e meio, pega um lápis na mão, começa a garatujar: este é o nome correto para esta fase do desenho. Os primeiros traços são registros dos movimentos: primeiro sem nenhum controle e atenção aos limites da superfície. O corpo todo participa da atividade. Aos poucos, os movimentos de vaivém passam a ser mais coordenados.  Essa experiência se prolonga e a criança vai repetindo as garatujas longitudinais até perceber que é capaz de dominar seus próprios movimentos. Quando descobre que seus gestos ficam registrados na folha passa a curtir a aparência dessas linhas. Então, ao prazer motor, soma-se o prazer visual.

Sentindo-se segura, começa a tentar movimentos mais amplos, que envolvem o braço inteiro. Aos poucos vai conquistando o círculo, forma fundamental para o desenvolvimento dos símbolos. Ao final dessa fase costumam aparecer as primeiras figuras humanas: cabeças com olhos, às vezes sobrepostas, sem intenção consciente quanto à disposição no papel, escolha das cores ou proporções.  Os pais estarão ajudando o crescimento da criança se tiverem um entendimento do processo, se mostrarem interesse no trabalho, acolhendo, sem interferir, os seus trabalhos. É importante destacar que o contato e a exploração dos elementos plásticos propiciam o desenvolvimento afetivo, pois o desenho é importante para a liberação das emoções. Além de, sem dúvida, trabalhar a coordenação motora e, ao ampliar seu conhecimento do mundo, privilegiar o intelectual.

A conquista da forma

Por volta dos três anos, seu filho começará a dar nomes às figuras, contando "quem" ele quis representar. O grande avanço, nessa fase, é ser capaz de utilizar o círculo para desenhar a cabeça e linhas retas para braços e pernas. O desenho fica, então, parecendo um polvo com seus tentáculos. Mais tarde, essa figura vai ganhar tronco e pescoço, tornando-se, enfim, semelhante à de um ser humano.  Estas ainda são representações sem volume, feitas com linhas finas e palitinhos, abstrações que não se identificam com a realidade, mas com o universo interior da criança. Ela já é capaz de respeitar melhor os limites do papel, porém ainda não tem a preocupação em relacionar as cores com o real. Proporcionar materiais e espaço adequados, escutar suas explicações e observações sobre o que desenhou é a melhor maneira de estimular a produção.

Entre quatro e cinco anos seu filho, mais maduro, vai enriquecendo o círculo cada vez mais. A partir dele constrói outras imagens: animais, carros, aviões, super-heróis. O quadrado vai sendo incorporado ao seu vocabulário plástico e surge a tradicional casinha, característica do desenho infantil, representante do seu universo.  Agora já existe certa preocupação com o realismo: as figuras humanas ganham detalhes, como mãos, pés e cabelos. Ainda assim, certa partes do corpo são esquecidas, ou supervalorizadas, de acordo com a ação que a criança quer representar. Ela já se preocupa em colocar cada coisa em seu lugar, como o sol no alto da folha. As cores são usadas conforme o estado emocional, podendo ser uma pista de como está a criança, no caso de preferência constante de determinados tons.

Uma explosão de imagens

Dos cinco aos seis anos os desenhos costumam ter um roteiro: começo, meio e fim. Pedir a seu filho que conte essas histórias pode dar dicas importantes sobre seu mundo interior: suas fantasias e conflitos. É, também, uma forma de desenvolver a linguagem verbal. Faça perguntas, incentive-o a falar, mas evite críticas ou julgamentos, tanto em relação à forma quanto à história. Nessa fase, os temas escolhidos podem não estar diretamente relacionados com a vida da criança, pois a imaginação delas é predominante. Aparecem, então, árvores, flores, pássaros, mar, que serão utilizados para compor o espaço. Surge a linha de base, representando o chão, apoio importante para outros elementos. A sua presença constante no desenho é um indício de que a criança está pronta para a alfabetização formal.

A figura humana ganha mais detalhes como dentes, dedos, pés, roupas e o pequeno procura relacionar as cores com os respectivos objetos, do tipo céu azul, sol amarelo. Durante toda essa fase há uma busca de conceitos de representação para a figura humana e os outros elementos da realidade; por isso os desenhos ainda não têm esquemas definidos e estão em constante transformação.

Em busca do realismo

Dos sete aos dez anos, a influência da aprendizagem da leitura e da escrita e as exigências da vida escolar tornam-se sensíveis. As crianças estão voltadas para a observação, assim, o mundo exterior vai se sobrepor cada vez mais ao interior e o realismo se torna uma aspiração muito forte.  Elas procuram, ao desenhar, dar a noção de perspectiva, profundidade e distância e passam a utilizar as cores "certas". Também ocorre, nessa fase, a repetição do esquema da figura humana e de outros elementos que compõem o meio - árvores, pássaros, barcos, carros, aviões, etc.

Muitos dos pequenos, não satisfeitos com seus resultados, deixam de desenhar: tornam-se muito sensíveis às críticas e comparam o próprio trabalho com o dos colegas. Portanto muito cuidado com os comentários, pois as observações negativas podem repercutir de maneira desastrosa sobre a expressão plástica de seu filho. É importante incentivá-lo a manusear outros materiais e recursos visuais, tais como colagens com papel rasgado, construções com sucata, montagens com dobraduras, grafitagem, máscaras, marionetes, instalações. Nem todas essas atividades podem ser feitas em casa, mas existem oficinas e ateliês que têm como proposta a realização de trabalhos que envolvam necessidades mais específicas de espaço e materiais.

Apresentar obras de artistas que rompem com as normas convencionais, por exemplo, pode ajudar seu filho a perceber que existem diferentes soluções e formas de expressão. A intenção não é, evidentemente, torná-lo um artista, mas assegurar que o desenho possa continuar sendo uma forma de manifestação pelo máximo tempo possível. Como disse Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena".

(*) Lucy Casolari é pedagoga e educadora

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