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7 de março de 2012

Do particular para o público - O que esperar?

Do Último Segundo:

Da escola particular à rede pública

Toda mudança, mínima que seja, provoca um certo grau de expectativa, ansiedade e até de angústias. Quando o assunto é mudar a escola dos filhos, a aventura do novo parece ganhar proporções ainda maiores. E se a mudança vem atrelada a uma nova condição econômica, social e cultural, nada mais comum que ver pais completamente desesperados com a perspectiva de ver o filho trocar o uniforme da escola particular pelo de uma escola pública. Para Marilene Proença, professora doutora do Instituto de Psicologia da USP, a postura e a expectativa dos pais são cruciais para a percepção da criança. “Os pais precisam conhecer as instituições e confiar nelas. Isso é o mais importante, o grau de confiabilidade. Se os próprios pais não confiam na escola, isso de algum modo será transmitido à criança ou ao adolescente. E vai gerar insegurança em vez de tranquilidade”, adverte. 


Mas nem sempre os caminhos que levam ao ensino público são tranquilos. As regras para o ingresso nas escolas diferem de cidade para cidade e de estado para estado. “Escolas consideradas melhores em cada região têm demanda maior. Estados e municípios com boas escolas e menor demanda dão escolha às famílias. Há ainda a possibilidade de estudar em uma instituição pela proximidade à casa ou pelo fato de existirem outras crianças da mesma família naquela escola”, explica Maria Ângela Barbato Carneiro, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP.

Como nem sempre há possibilidade de escolha, apenas de cadastro, em muitos casos conseguir uma boa educação na rede pública torna-se um jogo de sorte ou azar. Algumas mães dão sorte. Outras, nem tanto. Conversamos com mães que viveram – ou ainda vivem – os dois lados dessa experiência. Quase todas passaram pelo medo de enfrentar a mudança da escola particular para a rede pública. Elas compartilham aqui seus motivos, suas surpresas e as lições aprendidas com a mudança.

Da escola particular à pública: uma boa surpresa

Cris Guimarães, blogueira, é mãe de Pedro, 11, Daniel, 9, e Luis Felipe, 2 e vive no Rio de Janeiro, RJ. Leia depoimento

"Eu frequentei escola pública até a 4ª série. Meu marido vivenciou essa experiência a vida inteira e mesmo assim eu nunca tinha pensado nessa hipótese para meus próprios filhos. Cheguei a cogitar outras possibilidades, como a educação domiciliar, mas como não é reconhecida no Brasil, meu marido me convenceu de que a rede pública era nossa opção. Não teríamos mais condições financeiras de arcar com os custos da escola privada.
Entrei em pânico. Meus filhos, a princípio, também ficaram apreensivos, pois é uma realidade com a qual não estavam acostumados, além de sempre terem ouvido, em casa e com amigos, coisas negativas sobre a escola pública. Fui sincera com eles. Falei que o motivo era financeiro, mas que daria todo o apoio necessário para garantir uma boa formação. Hoje, acho que não vai ser necessário apoio extra, só o que já era usual, como leituras complementares, passeios culturais e pesquisas na internet, pois me surpreendi bastante com o que vi até agora.

A gente tem em mente que nossos filhos merecem o melhor e a mídia só divulga a parte negativa do que ocorre nas escolas públicas. Poucas são as iniciativas para divulgar os avanços obtidos, as melhorias feitas. Com a minha nova realidade, tive a curiosidade de pesquisar e constatei que o ensino público, nos últimos dez anos, avançou muito em todo o país. No Rio de Janeiro, em especial, há excelentes escolas, muitas com performance alta no ENEM – é um parâmetro discutível, mas não deixa de ser uma referência para comparação – e sem progressão continuada, o que é muito importante.

Feitas minhas escolhas, não tive dificuldade nem para matriculá-los. Fui muito bem recebida pela equipe das duas escolas. Como meus filhos estão em fases diferentes do ensino fundamental, não consegui que ficassem na mesma escola. A infraestrutura é ótima: tem wifi, laboratório de informática, aulas ministradas em netbooks, práticas esportivas, música, aulas de reforço, estudo dirigido.

A escola também oferece um suporte bacana nas refeições – são três por dia – e também fornece o material e uniforme escolar. Ou seja, tirando o luxo ao qual meus filhos estavam acostumados, não acho que sentirão falta de nada. A frase “o aluno faz a escola” tem muito sentido para nós agora. Se eles sempre foram bons alunos até hoje, vão continuar sendo. Eventuais deficiências, a gente discute com a própria escola a melhor forma de suprir. A questão da socialização, de conviver com as diferenças, seja elas de classe social ou de ideologia, também é uma experiência muito rica para eles.

Claro que há desvantagens: falta de organização e muitas informações desencontradas. Uma hora é uma coisa, outra hora é outra, não definem um padrão. Por exemplo, o horário de entrada passado na matrícula foi um, agora é outro. O Riocard (cartão utilizado para pagar o transporte para a escola) veio sem foto, apesar de a foto ter sido tirada na escola. 

Da escola particular à pública: adaptação necessária

Liana Nishitani, fisioterapeuta, é mãe de Yuri, 13, Bianca, 7, e Renan, 5, e vive em São Paulo, SP. Leia depoimento


"Eu fiquei, sim, com o coração na mão quando tive que mudar meus filhos da escola particular para a pública. Nunca havia passado por isso antes, nem como estudante. Mas não houve jeito. Eu saí de um emprego e não conseguiríamos, eu e meu marido, arcar com as despesas de uma escola particular para três filhos. Porque não é só a escola: tem o material, o lanche, o uniforme, passeios... Um pacote de “extras” que não pode ser esquecido. O Yuri, hoje com 13 anos, estuda em escola municipal desde o 5º ano. A Bianca, com 7, está em uma estadual e na rede pública há dois anos. Já o Renan, meu caçula, nunca chegou a estudar numa escola particular.

Por conta da diferença de idade, vivo experiências diversas, que nunca chegaram a ser traumáticas, nem pra mim, nem para os meus filhos. Sei das defasagens, principalmente pedagógicas: tudo é mais lento, não existe muito incentivo à leitura, quase não há lição de casa, as crianças demoram mais a aprender. Mas fico sempre de olho, participo das reuniões, sugiro estímulos. Sempre tive acesso fácil aos professores, diretores. Se quiser marcar uma reunião, não enfrentarei obstáculos. Isso já me conforta, pois sei que tenho voz ativa, serei ouvida.

Minha filha de sete anos já está no 3º ano e só tem português e matemática na grade de disciplinas. Nas escolas particulares, vejo que é bem diferente. Mas, por outro lado, ela foi alfabetizada às pressas e fez grandes progressos neste último ano, pois por conta da idade e com as novas regras para ingresso nos anos, ela teve que pular praticamente um ano, sem saber ler e escrever. E, no final, deu tudo certo. O Renan, meu caçula de cinco anos, só tem como referência educacional a rede pública. E é um menino educado, foi bem cuidado, sempre que houve qualquer incidente na escola eu fui comunicada e nunca sofreu por não ter tido os mesmos privilégios que os outros.



O Yuri, o mais velho, hoje no 9º ano, é o que poderia ter mais dificuldades para se adaptar à escola pública, já que estudou mais tempo no ambiente privado. Mas foi bem tranquilo. Ele sempre foi um bom aluno e continuou sendo. Tento fazer bem minha parte, ficar atenta, ajudar nas pesquisas, nas leituras. Eu me adaptei, meus filhos se adaptaram. Não me incomodam as diferenças de classes sociais, ou que uns alunos vão lá para ser aprovados, enquanto outros não querem saber de nada. Eu vou e estou com a escola pelos meus filhos, pelos alunos que eles são. Hoje, se eu tivesse condições, matricularia meus filhos na rede privada por conta dos estudos mesmo, porque acho os professores e a escola mais comprometida. Mas eu acredito que o choque da mudança da escola pública para a particular seria maior, porque nelas os alunos têm de tudo e do melhor. Com certeza meus filhos sofreriam mais."

Da escola particular à pública: um pesadelo pior do que o imaginado

Odete Santos, engenheira civil, é mãe de Ricardo, 5, e vive em São Paulo, SP. Leia depoimento

"Este ano já seria diferente para o meu filho. Ele acabou o ensino infantil e teria que ingressar no primeiro ano do fundamental. Só não contava com uma mudança tão radical: fiquei desempregada, sem apoio financeiro, e tive então que matriculá-lo numa escola pública. Sempre estudei em escola pública, só a faculdade foi particular. Não me lembro de quando eu era pequena, dos meus primeiros dias de aula na alfabetização, mas assim como eu, sinceramente, espero que meu filho esqueça essa experiência. As coisas que eu vi foram desesperadoras.

Em um primeiro contato, perguntei se poderia ver a escola e a resposta imediata foi negativa, alegando que estavam em reforma. Na segunda vez que estive lá, junto com meu filho, pedi novamente para ver a escola. Novamente me disseram que não, que eu poderia conhecer a escola em janeiro. Não me lembro de, antigamente, a escola pública ser tão desorganizada. Parece que a gente não tem direito nenhum, qualquer forma de se manifestar. As aulas começaram dia 6 de fevereiro e o primeiro dia já foi traumático.

Logo que entramos na escola, era aquela multidão de pais e alunos de todas as idades. Não havia espaço físico para tanta gente. A diretora começou a fazer um discurso que ninguém ouvia. Subi com meu filho para a sala, sentamos, a professora conversou rapidamente. Chegou uma hora que falei que ia embora e ele gritou de desespero. Uma mãe desceu e falou que meu filho estava chorando de soluçar. Subi, conversei com ele e ele ficou bem.

Mas já nesse primeiro dia uma criança invocou com ele, fazia malcriação, jogava o material todo dele no chão. A impressão foi horrível: quando fui buscá-lo, um empurra-empurra na porta, uma voz dizendo “eu vou dar tiro em você”, crianças pequenas junto com as grandes. Ou seja, até alguém chegar, pode acontecer de tudo.

Não existe uma organização antes das aulas começarem. Havia uma pessoa na sala do meu filho, que parecia a professora auxiliar e quando perguntei ela me disse que não sabia o cargo que ocupava na classe, apenas estava lá porque a diretora havia pedido. Deram um crachá para meu filho pendurar no pescoço, coisa que não fazemos nem com um cachorro.

Mandei um caderno no segundo dia. A professora descobriu que ele já estava lendo. Achou bonitinho, falou que leu um livrinho. Mas achei que pedagogicamente estava indo muito devagar. Iam enrolar as crianças até chegar o material do governo. Essa situação estava me angustiando muito e com a ajuda do pai dele, que resolveu arcar com os custos, transferi o Ricardo para uma escola particular.

Não conseguiria engolir aquilo lá por muito tempo. Algumas pessoas falaram para eu conversar mais seriamente com a diretora, pois diziam que era uma escola de referência no bairro. Eu preferi não ter esse desgaste, pois entendi que dificilmente conseguiria unir esforços, inclusive de outros pais, para mudar a situação. Se até então não tinham marcado sequer uma reunião para apresentar a escola, os professores, o planejamento, com certeza seria difícil ter acesso a outras conversas mais privadas.

Todo medo que eu tinha, todos meus receios, se concretizaram de uma maneira ainda pior do que eu esperava. Foi uma experiência péssima e triste, porque no final, é nosso dinheiro que está em jogo e é uma obrigação do estado e da prefeitura oferecer um ensino de qualidade para nossos filhos."

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