A Importância do desenho infantil no processo de alfabetização
 Por Alcione Vieira de Paiva e Luana Carolina Rodriguez Cardoso
Este trabalho foi motivado pelo desejo das  autoras de identificar as contribuições do desenho infantil no processo  na aquisição da escrita por crianças na faixa etária de dois a sete  anos. Buscou-se reunir e revisar a bibliografia sobre estudos de alguns  teóricos traçando um breve panorama sobre o assunto. Foram objetivos  desse trabalho: analisar os estágios de evolução do desenho infantil;  revisar bibliografia sobre o tema e compreender como o desenho infantil  influencia no processo de alfabetização. Muitas crianças ao chegarem ao 1º ano do ensino  fundamental apresentam dificuldades de aprendizagem relacionadas à  escrita. É possível que estas crianças não tenham tido oportunidades  significativas de interação na educação infantil, fase na qual se  desenvolve a função simbólica e consequentemente os sistemas de  representação, fato que pode ter prejudicado o desenvolvimento da  criança. Em situações como esta, é perceptível a importância do trabalho  na educação infantil que priorize e preserve os momentos lúdicos e  prazerosos, que certamente contribuirão para o desenvolvimento do  desenho infantil.
Ao final do seu primeiro ano de vida, que compreende o  estágio sensório-motor, descrito por Piaget (1948), a criança é capaz  de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos. O  desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas  que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da  garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os  primeiros símbolos. De acordo com o mesmo autor, a função semiótica é a  capacidade que a criança tem de representar objetos ou situações que  estão fora do seu campo visual por meio de imagens mentais, de desenhos,  da linguagem. A criança passa a desenvolver essa função no estágio  pré-operatório, que compreende faixa etária de dois a sete anos. As crianças no início dessa fase começam a  representar na tentativa de interagir com o mundo que a cerca,  desenvolvendo a função simbólica, entendida como ato de representação,  possibilita à criança, de acordo com Ribeiro (2007) "[...] à tomada de  consciência da organização do mundo e o entendimento de fatos passados,  presentes e futuros [...]". Sendo assim, entende-se que a representação é  requisito básico para as operações mentais. 
O que constitui a função semiótica e o que a faz ultrapassar a atividade sensório-motora é a capacidade de representar um objeto ausente, por meio de símbolos ou signos, o que implica poder diferenciar e coordenar os significantes e os significados ao mesmo tempo. (PILLAR, 1996, p.26)
A cada representação que a criança faz, o  jogo simbólico e o desenho passam a ser uma necessidade, e é assim que  elas vão se inserindo no processo de alfabetização, desde o estágio  pré-operatório, onde se inicia o processo de representação, interagindo  com a escrita como se a mesma fosse um jogo que contêm regras e, contêm  também o imaginário. Dessa forma a escrita deixa de ser uma  representação mental e passa a ser uma representação gráfica, carregada  de sentidos, assim como o desenho que, primeiro passa pelo plano da  representação mental e só depois a criança passa a representá-lo  graficamente. Assim o desenho infantil pode ser considerado precursor da  escrita, estando diretamente relacionado ao processo de alfabetização.
1. Pressupostos Teóricos
 Os primeiros estudos sobre desenho das crianças datam do final do século XIX e estão fundados nas concepções psicológicas e estéticas da época. São os psicólogos e os artistas que descobrem a originalidade dos desenhos infantis e publicam as primeiras 'notas' e 'observações' sobre o assunto. Como escreveu o famoso pintor Pablo Picasso em relação às suas observações sobre o desenho infantil: Quando criança, eu desenhava como Rafael. À medida que fiquei mais velho, passei a desenhar como criança. De certa forma eles transpuseram para o domínio do grafismo a descoberta fundamental de Jean Jacques Rousseau sobre a maneira própria de ver e de pensar da criança. As concepções relativas a infância modificaram-se progressivamente. A descoberta de leis próprias da psique infantil, a demonstração da originalidade de seu desenvolvimento, levaram a admitir a especificidade desse universo.
Piaget (1948) diz que a representação é  gerada pela função semiótica, a qual possibilita à criança reconstruir  em pensamento um objeto ausente por meio de um símbolo ou signo. A  representação é condição básica para o pensamento existir, uma vez que,  sem ela, não há pensamento, só inteligência puramente vivida como no  nível sensório-motor. É através do surgimento da função semiótica que a  criança consegue evocar e reconstruir em pensamento ações passadas e  relacioná-las com as ações atuais. Essa passagem é possível por  interações da criança com o ato de desenhar e com desenhos de outras  pessoas. Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é  simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao  constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. No decorrer do  tempo, as garatujas, que refletiam o prolongamento de movimentos  rítmicos de ir e vir transformam-se em formas definidas que apresentam  maior ordenação, e podem estar se referindo a objetos naturais, objetos  imaginários ou mesmo a outros desenhos. Na evolução da garatuja para o  desenho de formas mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de  elaborar imagens no fazer artístico. Começando com símbolos muito  simples, ela passa a articulá-los no espaço do papel, na areia, na  parede ou em qualquer outra superfície. Passa também a constatar a regularidade nos  desenhos presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem  acesso, incorporando esse conhecimento em suas próprias produções. No  início, a criança trabalha sobre a hipótese de que o desenho serve para  imprimir tudo o que ela sabe sobre o mundo. No decorrer da simbolização,  a criança incorpora progressivamente regularidades ou códigos de  representação das imagens do entorno, passando a considerar a hipótese  de que o desenho serve para imprimir o que se vê. É assim que, por meio do desenho, a criança  cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção,  imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas  pelas leituras simbólicas de outras crianças e adultos... Leia mais
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