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5 de abril de 2009

Planejamento educacional - Parte III - A necessidade de ser flexível

O planejamento deve ser flexível

Sustos, como descobrir que a turma não está no nível imaginado, pedem uma mudança de rumos

Arthur Guimarães (novaescola@atleitor.com.br)
Por mais bem fundamentado que seja o planejamento escolar, o professor precisa ter consciência de que alguns imprevistos podem surgir ao longo do ano letivo (e esses sinais não devem ser ignorados). É importante que haja uma avaliação constante do processo de ensino, com o educador sempre alerta para diagnosticar obstáculos encontrados e medir o ritmo de avanço das atividades sobre os temas programados.

Os assuntos trazidos no dia-a-dia pelos alunos, como notícias da televisão ou dilemas pessoais e familiares, também precisam ter um tempo reservado para serem debatidos - se possível relacionando-os aos conteúdos curriculares, mas logicamente sem forçar conexões distantes. O cuidado de monitorar as aulas e o comportamento dos estudantes periodicamente é determinante para perceber a necessidade de pequenos ajustes, pausas, acelerações, mudanças de rota ou mesmo a retomada de algumas informações que não foram aprendidas de forma consistente pela turma. "É uma questão de bom senso. O planejamento inicial é feito sem que o docente conheça seus alunos. É com a interação e com o próprio tato que o educador vai perceber o que vai manter ou não", explica Benigna Freitas, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Brasília (UnB).

As avaliações são a principal ferramenta para saber quando improvisar. Depois de cada aula, o professor pode criar o hábito de fazer anotações sobre o andamento das rotinas, comparando o que foi inicialmente previsto e o que realmente aconteceu. Aqui, podem entrar observações a respeito de grupos mais avançados e até sobre conteúdos que pareciam totalmente dominados. A escrita leva a pensar. É inclusive um momento em que fica claro ao docente se suas explicações surtiram efeito ou não ajudaram no entendimento dos conceitos trabalhados. Nos registros, entram ainda as cartas que foram tiradas da manga para contornar eventuais sustos durante a aula. "Ao escrever, você cria uma distância do que foi feito, o que ajuda na ref lexão sobre os procedimentos utilizados", explica Neide Noffs, professora de Didática e Metodologia do Ensino da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). "É com essa prática que o profissional consegue ter noção dos limites da flexibilidade do planejamento. Ele deve se perguntar se sua explicação surtiu efeito e os objetivos foram alcançados. Se não foram, cabe cogitar alguma alteração de rota", argumenta.

A especialista cita o francês Yves Chevallard para embasar seu entendimento de que as mudanças de percurso são bem-vindas. "Um conteúdo de saber que tenha sido definido como saber a ensinar sofre, a partir de então, um conjunto de transformações adaptativas que irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O 'trabalho' que faz de um objeto de saber a ensinar um objeto de ensino é chamado de transposição didática", escreveu o educador. Neide acredita que conhecer a realidade dos alunos é um fator fundamental nessa transformação do saber. "O conhecimento científico, por exemplo, não deve ser repetido em classe exatamente do jeito como está nos livros. As informações precisam ser trabalhadas e preparadas para serem repassadas aos estudantes. E é elementar entender quem são esses estudantes. Por isso, enquanto se aprendem quem são eles e o que sabem, podem ocorrer desvios de rota", analisa.

Outros fatores, menos ligados ao nível de conhecimento dos alunos, também podem influenciar a rotina desenhada. A previsão inicial de que as atividades devem ter continuidade com tarefas como a lição de casa pode não ser concretizada. "Por motivos variados, acontece de algumas crianças não conseguirem fazer essa extensão dos estudos, o que as deixaria desamparadas no trabalho com um conteúdo que demanda teoricamente um complemento do estudo fora da escola", diz a professora da PUC-SP.

Acontecimentos cotidianos relatados na mídia ou mesmo eventos marcantes na comunidade igualmente podem - e devem - ser relacionados aos conteúdos curriculares, o que muitas vezes pede uma interrupção no combinado. "Há uma falta de tempo para o educador se planejar. E os sistemas escolares burocratizam o ensino. Fica a impressão de que com um roteiro rígido e rotineiro se erra menos. O problema é que muitas vezes o aprendizado passa a ser significativo exatamente quando você faz uma pausa para contextualizar certo tema, fugindo do script", diz Newton Bryan, professor de Planejamento e Gestão Educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Segundo ele, no entanto, devem ser tomados cuidados na hora de incluir novos assuntos na pauta. "Ignorar não é o caso. São muitos games, vídeos e seriados que podem servir de inspiração. Mas é preciso ter uma boa formação para dar guinadas consideráveis. Um docente que não tem total habilidade com a geografia poderia ser um fracasso tentando relacionar os conteúdos da disciplina com a catástrofe causada pelas chuvas em Santa Catarina", pondera o especialista. Benigna também foca nesse ponto. "A escola precisa saber o que é fundamental para ser trabalhado e o que é secundário. Não está certo deixar tudo de lado para discutir determinado assunto sem nenhuma programação nem vínculo com o currículo. O peso de cada coisa precisa ser medido pelo educador sem exageros", avalia a professora da UnB.
AS DICAS PARA ATRAVESSAR A CORDA BAMBA
É preciso equilíbrio para percorrer o ano letivo sabendo mesclar as atividades essenciais com eventuais mudanças de percurso que se fizerem necessárias rumo ao objetivo final. O mais importante é saber (re)planejar sempre, estabelecer prioridades e, principalmente, nunca deixar de levar em conta as características e necessidades de aprendizagem dos estudantes. Para tanto...
  • Considere sempre o que os alunos aprenderam até o momento, a série em que estão e a relevância do conteúdo
  • Avalie com que frequência o assunto estudado aparecerá novamente nos anos seguintes. Se não existe uma previsão de retomada do conteúdo no futuro, talvez não seja a hora de desviar de foco
  • Pergunte a si mesmo: "Quem eu estou ensinando?" Defina aonde quer chegar, o que a turma realmente precisa e o que é possível fazer
  • Escute com atenção os questionamentos que surgirem
Por que ser flexível
  • O professor que não faz um planejamento maleável corre o risco de não alcançar seus objetivos
  • Os alunos são a referência para a elaboração de um plano. É preciso acompanhar o desenvolvimento deles
  • O plano é uma previsão, sujeita a erros. Daí a importância em mudar

Fonte: Revista Nova Escola


Leia também:

Planejamento educacional - Parte I - Didática

Planejamento educacional - Parte II - Planejamento diário

Planejamento educacional - Parte III - A necessidade de ser flexível

Planejamento educacional - Parte IV - Melhorando a velha sala de aula

Planejamento educacional - Parte V - O plano de aula

Planejamento educacional - Parte VI - Projeto político pedagógico

Planejamento educacional - Parte VII - Planejando o ano escolar de 2011

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Planejamento educacional - Parte IX - Planejando 2012 e singrando novos rumos

Planejamento educacional - Parte X - Organização e planejamento em família

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