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19 de fevereiro de 2011

Marchinhas de carnaval


Músicas que marcaram as décadas de 20 a 60

Por Antonio Carlos Olivieri (*)


A pedido dos foliões carnavalescos do cordão Rosa de Ouro, em 1899, a já célebre compositora Chiquinha Gonzaga compôs a marchinha "Ó abre alas", a primeira música especialmente feita para animar o carnaval. Descendente das marchas militares e das marchas populares portuguesas, as marchas-ranchos - como passaram a ser chamadas por animarem os blocos ou ranchos de foliões - acabaram se consagrando como gênero carnavalesco por excelência, prevalecendo até sobre o samba, entre as décadas de 1920 e 1960, quando entraram em relativo declínio. Porém, nunca chegaram a desaparecer, e até hoje animam festas de carnaval em todo o país.

Letra e música

Não é difícil explicar a atração que as marchinhas de carnaval exercem sobre o grande público: compasso binário, andamento acelerado e melodias simples cativam rapidamente o ouvinte, ao mesmo tempo que as letras - debochadas, irônicas, ambíguas ou sensuais - são fáceis de entender e memorizar. De fato, as marchinhas eram crônicas urbanas de um Rio de Janeiro, que era então a capital federal e o verdadeiro coração cultural do país. Era lá que se encontravam as principais emissoras de rádio, gravadoras de discos e os estúdios cinematográficos da Atlântida, que potencializaram a divulgação do gênero por todo o Brasil e permitiram que elas fossem registradas para a posteridade em suas versões originais (algumas das quais você pode ouvir nos links deste artigo).

Verdadeiras crônicas

O jornalista Sérgio Cabral, um dos autores do roteiro de "Sassaricando" - um musical feito de marchinhas encenado em 2007 no Rio de Janeiro - escreve:  "Estamos convictos de que poucas manifestações refletem com tanta exatidão a criatividade do compositor do Rio e o espírito carioca. Verdadeiras crônicas, elas contam a história da cidade, as qualidades e os defeitos do seu povo, quase sempre sem abrir mão do deboche e da malícia. Vão do lirismo ao esculacho, mas são permanentemente carioquissímas. São músicas que, ao mesmo tempo em que nos remetem a carnavais inesquecíveis, conservam a juventude que encanta as crianças de todas as idades. Em outras palavras, são eternas."

Dando-se algum desconto à exaltada paixão pelo Rio de Janeiro que Cabral manifesta (pois as marchinhas são, na verdade, um patrimônio nacional brasileiro), não se pode negar que ele tem toda razão. De amores e dores de cotovelo à sátira política e ao futebol, não havia tema do cotidiano que as marchas carnavalescas não abordassem.

É melhor ouvir do que falar

Mas falar de marchinhas em abstrato não faz sentido. Para se compreender o espírito do gênero é preciso citar pelo menos algumas das marchas, dos compositores e cantores que marcaram os velhos carnavais. Os carnavais de salão, com confete e serpentina, e personagens simbólicos, de um triângulo amoroso farsesco: Colombina, Pierrô e Arlequim. Trata-se de uma seleção dificílima, principalmente quando ela deve ser breve, mas talvez se deva começar por aquela que mais permaneceu na memória dos brasileiros e que se tornou um verdadeiro sinônimo de carnaval: Mamãe, eu quero mamar de 1937, composição do alagoano Jararaca (José Luís Rodrigues Calazans, 1896-1977) e do paulistano Vicente Paiva (1908-1964).

Em segundo lugar, a clássica Chiquita Bacana , de 1949, dos cariocas Braguinha (1907-2006) e Alberto Ribeiro (1902-1971), que se tornou um símbolo de brasilidade, retormado pelo Tropicalismo: Caetano Veloso escreveu A filha da Chiquita Bacana . Além disso, "Chiquita" faz um carnaval filosófico, com uma célebre alusão ao existencialismo. A gravação que você pode ouvir traz a voz de Emilinha Borba (1923-2005), cantora que gozou de extrema popularidade nessa época.

A Pequena Notável

Pode-se seguir, fugindo à ordem cronológica, ao maior sucesso do carnaval de 1930, que estourou na voz da legendária luso-brasileira Carmen Miranda (Maria do Carmo Miranda da Cunha, 1909-1955): Para Você Gostar de Mim , também conhecida como "Taí", composta pelo mineiro Joubert de Carvalho (1900-1977). Mas não se pode falar em marchinhas e carnaval sem mencionar o célebre carioca Lamartine Babo (1904-1963). Cantor e compositor de tantas obras excepcionais, só arbitrariamente, se pode escolher uma única composição para representá-lo. Por exemplo, sua homenagem às morenas brasileiras: Linda Morena , de 1932.

Convém lembrar que Babo gostava das sátiras políticas e suas composições sofreram com a censura do Estado Novo (1937) de Getúlio Vargas. Paradoxalmente, o ditador e depois presidente Vargas era, por assim dizer, um grande admirador do carnaval e especialmente da vedete carioca Virgínia Lane (nascida em 1920) que chegou ao estrelato com justamente com a música Sassaricando , de 1951, composta pelos também cariocas Oldemar Magalhães (1912-1990), Luís Antônio (Antônio de Pádua Vieira da Costa, 1921-1996) e pelo paraense Zé Mário (Joaquim Antônio Candeias Jr., nasc. 1923).

Para não ficar só nessas cinco músicas, vale terminar com duas seleções de velhos carnavais nas vozes de intérpretes contemporâneos: Beth Carvalho e Martinho da Vila .

(*) Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.

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