Censo 2010: 10,8% dos universitários estão cursando a segunda graduação
O IBGE divulgou, nesta quarta-feira (19), dados inéditos sobre o perfil
universitário brasileiro nos resultados da amostra de educação e
deslocamento do Censo Demográfico 2010. Segundo o estudo, entre os
estudantes de ensino superior, 10,8% já eram formados e estavam cursando uma segunda graduação. O maior percentual foi observado na região Sudeste, com 12,7%, contra 8,8%, no Sul, o menor do país. De acordo com a pesquisa, a incidência cresce junto com o aumento da
idade: de 3,9% entre universitários de até 24 anos, a 30,1%, com 40 anos
ou mais. O índice também é mais alto entre os ocupados no mercado de
trabalho (12,6%) em relação aos não ocupados (7,2%).
Jacqueline
Resch, especialista em recursos humanos, aponta duas hipóteses
principais para o retorno à vida universitária de pessoas mais velhas,
já formadas e empregadas: a necessidade de se adaptar a um mercado cada
vez mais competitivo e multidiscplinar ou o redirecionamento da
carreira. — Ou a pessoa escolheu uma carreira e não se identificou
ou sente necessidade de complementar a formação com alguma área que não
domina. Como as empresas exigem cada vez mais dos funcionários, há uma
busca maior pelo conhecimento. Hoje, as pessoas trabalham em equipes
muito interdisciplinares, o que pode despertar mais interesse e
necessidade. Isso aumenta com a idade mais avançada, quando a situação
financeira já está mais estável — explica Jaqueline.
Sócia-diretora
da Resch Recursos Humanos, que faz processos seletivos para empresas
como Brasil Brokers, Shell, Vale e White Martins, ela exemplifica como
isso pode ocorrer na prática: — Isso ocorre com pessoas que estão
mais antenadas com a demanda do mercado e que vão para cargos de gestão.
Se não têm formação em Administração, buscam esse segundo curso, por
exemplo. Podem optar por Direito também, por lidar com contratos, e
acharem que vão ter um entendimento maior nessa área. Emanuelle
Morais Braga, de 33 anos, se encaixa nesse perfil. Formada originalmente
em Publicidade, ela sentiu a necessidade de estudar Direito depois que
começou a trabalhar na área de compras e licitações públicas do
Ministério do Esporte. Hoje, ela concilia a segunda faculdade com o
emprego.
— Fiz Comunicação primeiro e não estava atuando na minha
área. Como meu trabalho é muito ligado à legislação, resolvi ampliar o
conhecimento na área de publicidade e propaganda para poder advogar na
área de direito empresarial. É uma luta: ao mesmo tempo, preciso do
trabalho para pagar a faculdade — conta a brasiliense. Seu irmão
Bruno, de 27 anos, está seguindo caminho parecido. Ele se formou em
Aviação Civil em 2008. Diante das dificuldades da profissão, decidiu
voltar à universidade em 2010. Hoje, cursa Engenharia Civil e estagia
numa construtora. Bruno explica que a escolha aliou suas aptidões ao
aquecimento do mercado.
— O que mais me motivou a não continuar a
carreira de piloto foi o dinheiro. No início, é um gasto muito alto sem
receber nada em troca. Agora, estou no 5º período de engenharia e ganho
bem como estagiário. Como prefiro a área de cálculo e gosto muito das
exatas, pelo que pesquisei era o que mais se encaixava no meu perfil,
além de ser uma área que carece de profissionais capacitados — diz
Bruno. Para Andrea Ramal, consultora em educação, dois fatores
explicam a opção pela segunda graduação, um mercadológico e outro
cultural. O primeiro aspecto pode ser motivado pela escassez de
oportunidades profissionais ou pela percepção de uma escolha inadequada.
Por isso, ela acredita que a volta aos estudos se intensifique à medida
em que se fica mais velho.
— A esta altura, a pessoa já tem mais
maturidade para verificar por onde vai o mercado, onde estão as melhores
oportunidades e até mesmo qual é sua maior vocação, o que nem sempre
acontece na escolha da primeira carreira, quando o estudante é bem jovem
e imaturo — compara Andrea.
Na perspectiva cultural, Andrea
também cita a interdisciplinaridade e a conexão de saberes,
características da atual sociedade. Ela enxerga nesse campo a
justificativa pela escolha de um novo curso de ensino superior em vez de
uma pós-graduação: — Alguns profissionais podem ter interesse não
em se especializar cada vez mais numa área só (MBA, pós, mestrado
etc.), mas em diversificar seu olhar e experiência profissional. Nesses
casos, é mais comum que a pessoa busque uma segunda graduação que
complemente a primeira. Exemplo: professor ou médico fazendo psicologia,
advogado fazendo relações internacionais etc. Às vezes, essas opções
são mais valorizadas no mercado, do que uma pós feita muito cedo.
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